Impressões ao calor da hora: sai impeachment, entra eleição 2022, por Daniel Samam


A conjuntura pode ser caracterizada na lógica do copo meio cheio e o copo meio vazio: Ou seja, nem o presidente dispõe de força para subjugar o STF e o Congresso para impor seu projeto autocrático de caráter fascista, nem as oposições acumularam o suficiente, nas ruas e na política, para avançar com o processo de impeachment.


Hoje o cenário eleitoral é bastante desfavorável ao governo de plantão, é verdade. Daí, com o impeachment cada vez mais fora do horizonte, as atenções se voltam para o pleito de 2022. Ou seja, derrotar Bolsonaro no voto passou a ter total centralidade. Logo, em tese, o presidente ganhou uma sobrevida até dezembro de 2022.


Mas a imprensa e o establishment político e financeiro adotaram uma narrativa que pra evitar a volta de Lula e do PT, primeiro é preciso tirar de Bolsonaro a liderança do campo e a vaga no segundo turno das eleições. Eles relutam em admitir, mas a vaga em disputa não é a de Lula, mas a de Bolsonaro.


Na oposição de esquerda não há muito a fazer além do que já vem sendo feito. Ou seja, criticar o governo, costurar as alianças mais ao centro, necessárias na política, além de tentar aumentar a mobilização nas ruas. Convenhamos, os atos do dia 02/10 foram muito aquém do esperado e até do que o campo democrático-popular vinha colocando nas ruas.


Na centro-direita o problema é maior. Falta expectativa de poder. Um caminho para esse objetivo é tentar isolar e esvaziar Bolsonaro. Mas o presidente resiste. A cada pesquisa que anuncia seu derretimento, por outro lado, nota-se que Bolsonaro mantém a liderança eleitoral folgada frente aos candidatos da centro-direita.


A nota redigida em conjunto com Temer logo após os atos do 7 de setembro foi um movimento inteligente. Bolsonaro não enfrenta concorrência no campo da direita. Se mantiver os traços estruturais do discurso, pode tranquilamente fazer movimentos táticos, entre recuos e ofensivas, concessões, inclusive por ter proximidade com o "centrão". Com isso, corre pouco risco de perder a vaga no segundo turno.


Por fim, diante do quadro surgem duas perguntas: 1. Como Bolsonaro reagirá se a situação eleitoral dele prenunciar a possibilidade real de derrota? 2. O que fará a oposição de centro-direita se o campo continuar fracionado em diversas pequenas candidaturas e sem capacidade de disputa?


A ver.

3 comentários:

  1. Faz sentido Daniel! Infelizmente parece que teremos que "suportar" Bolsonaro e o seu desgoverno até o final de 2022... Difícil aguentar...

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  2. Daniel, uma análise perfeita da situação!
    A situação do Inominável não é boa mas a esquerda ainda está patinando apesar do Lula estar bem situado? O
    que fazer?

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  3. Verdade vamos aturar esse desgoverno até 22.Lutar muito para ocupar as ruas.

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