As manifestações de hoje e a conjuntura, por Sérgio Batalha


Alguns se decepcionaram com o tamanho das manifestações de hoje. Esperavam algo mais impactante, que afirmasse claramente uma hegemonia da oposição nas ruas.


Na verdade, as manifestações de rua não expressam rigorosamente a aprovação de um governo. Tanto as manifestações bolsonaristas, quanto as da oposição foram hegemonizadas por militantes, por uma vanguarda da luta política.


São pessoas com uma forte convicção favorável ou contrária a Bolsonaro, normalmente atreladas a uma posição política já consolidada. Entre estes extremos se situa a maior parte da população, que pode estar contra Bolsonaro, mas não vê uma utilidade imediata em tais manifestações.


Muitos preferem cuidar da sua vida, trabalhar ou se divertir. Acham que “não vai dar em nada” ou não entendem a importância de desgastar o presidente com manifestações de rua.


Os bolsonaristas tiveram ainda uma clara vantagem na organização dos seus atos, que foi o poder de mobilização de algumas igrejas evangélicas somado ao poder econômico de produtores rurais. Eles alugaram ônibus e caminhões para encher os atos, trazendo pessoas de cidades do interior para Brasília e São Paulo.


Mas as manifestações da oposição de hoje não fracassaram. Tiveram um bom público e a tendência é de crescimento na medida em que a situação piore e se aproxime a campanha eleitoral.


Não esperem, porém, um fim das manifestações de rua favoráveis a Bolsonaro. A extrema-direita no Brasil conseguiu consolidar uma parcela de cerca de 15% do eleitorado. Estas pessoas estão presas a um debate ideológico, a uma guerra cultural, que ignora os resultados desastrosos do governo.


A boa notícia é que a maioria do eleitorado não tem esta visão puramente ideológica da realidade do país. Estão se afastando de Bolsonaro e não parecem propensos a retornar.


Nesse sentido, o discurso na linha do “Bolsocaro” é o mais eficiente. Não tem mensagem de WhatsApp que esconda a dura realidade social e econômica que vivemos.


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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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