O ato de queimar estátuas e o risco de isolamento do campo democrático-popular, por Daniel Samam


No mesmo dia em que centenas de milhares se manifestaram Brasil afora pelo #ForaBolsonaro e em defesa da democracia de forma pacífica, um grupinho de revolucionários tardios resolve partir pra "ação direta" e atear fogo à estátua do bandeirante assassino Borba Gato, como se fosse algo que acumulasse positivamente ao dia nacional de lutas.


Resultado, virou o fato relevante propagado pela grande mídia e pela mídia alternativa. O gabinete do ódio e o bolsonarismo agradecem, pois agora dispõem de material para usar contra as manifestações do campo democrático-popular, dizendo que promovemos a desordem e o vandalismo. Penso que devemos todos repudiar e desautorizar qualquer vínculo com esse episódio estreito e sectário.


O bandeirante Borba Grato foi um caçador de humano, um assassino. Temos pleno acordo que a estátua trata-se de homenagem totalmente descabida. O que deve ser feito é a luta na sociedade e no plano institucional por sua remoção do local, bem como de outros tantos monumentos Brasil afora. Não tacar fogo, como foi feito.


Penso que essa coisa de queimar estátuas não nos ajuda no atual momento. A natureza do povo brasileiro é conservadora. Penso que nosso movimentos para derrotar o fascismo à brasileira deve ser amplo, seja na sociedade, seja no plano institucional. No mais, não dispomos de uma base e nem de acúmulo político para esse combate simbólico de "queimar opressores".


Estamos avançando na luta contra o bolsonarismo, o fascismo à brasileira. Minha preocupação com esses episódios estreitos e sectários é exatamente nos empurrar novamente para o isolamento, para o "gueto".

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