impressões ao calor da hora: a fascistização do "centrão", por Daniel Samam

A notícia de uma possível fusão entre o PSL, o DEM e o PP é preocupante pois se avançar, o novo partido passaria a ser o maior do Congresso, com 121 deputados e 15 senadores. Seria uma espécie de ARENA vitaminado.

Não podemos cair no "canto da sereia" da mídia e dos liberais de achar que o Centrão esteja tutelando Bolsonaro. Isso é puro wishful thinking. Além de ser uma irresponsabilidade subestimar a ameaça à democracia que está posta. Não existe tutela de terceiros. Nem do Centrão e tampouco de militares. Sob processos fascistizantes, a centralidade está sempre no líder. Ou seja, em Bolsonaro.

Penso que pode estar havendo uma transformação do Centrão. Mas antes, o que é o Centrão? Penso que seja o conservadorismo que se organizou na nova república. Por isso prefiro classificá-lo como centro-conservador. O problema é que quando a democracia se esvai, esse conservadorismo pode modular e se transformar, servindo de coalizão conservadora que dá sustentação ao projeto fascista, como já dá alguns indícios disso.

E, vejam, isso não é uma novidade. Foi assim na Itália, na Alemanha. Sobre o processo fascistizante, pode-se dizer que este se dá em três etapas sucessivas: a obtenção de um resultado eleitoral expressivo (não necessariamente majoritário); a chegada ao governo (ainda que sem maioria parlamentar, mas construindo uma coalizão conservadora que dê sustentação) e o fechamento progressivo do regime, com a destruição sistemática das instituições, das garantias e das liberdades democráticas.

Por fim, vejo e temo que nesta tentativa de fusão de partidos pode estar havendo a adesão do Centrão ao projeto totalitário. O que irá acontecer de fato, temos de aguardar e observar os movimentos, porém vigilantes em defesa da democracia.