Impressões ao calor da hora: mais uma ameaça à democracia e o avanço da conjuntura fascistizante, por Daniel Samam

O Estadão revelou que o ministro da Defesa, general Braga Netto, tentou intimidar o Congresso ao ameaçar de não haver eleições se o voto impresso não for aprovado. Braga Netto, negou e disse não passar de "invenção". O presidente da câmara, deputado Arthur Lira, também negou ter recebido a ameaça. O ministro do STF, Luis Roberto Barroso, jogou panos quentes, disse que conversou com os dois e que tudo não passou de mal entendido.

Braga Netto, bem como os três comandantes das Forças Armadas apoiam a ideia de impedir as eleições caso não haja o voto impresso. E não trata-se de tutela militar, pois eles operam sob  comando de seu líder, Bolsonaro.

Segundo apuração do Correio Braziliense, foi o senador Ciro Nogueira o interlocutor e remetente da ameaça de Braga Netto ao presidente da câmara, Arthur Lira. E foi Lira quem deu o furo ao Estadão. Obviamente que os personagens principais de mais esta crise continuarão negando. Mas todos sabem que Braga Netto ameaçou, sim, com um golpe. E que tanto Ciro quanto Lira decidiram posar de protetores da democracia.

Os partidos PSL, DEM e PP estão negociando uma fusão. O novo partido seria o maior do Congresso, com 121 deputados e 15 senadores do famigerado Centrão. Eu chamaria de "Arenão". Vejam, Bolsonaro está caminhando para se filiar ao PP. O futuro ministro da Casa Civil, senador Ciro Nogueira e interlocutor de Braga Netto, é o cacique do PP. O jogo é pesado.

É sempre bom lembrar que não se dá golpe apenas na base da força. Às vezes, o Congresso participa de golpes. Exemplos não faltam. E sem essa de achar que o Centrão esteja driblando Bolsonaro. Como todo processo fascista, a centralidade é exercida pelo líder.

Noves fora, aos poucos vamos naturalizando se houve ou não ameaças à democracia. Basta de relativizar as constantes ameaças às instituições, às eleições e à democracia. É preciso reação firme, unitária, clara e direta do campo democrático e da sociedade civil organizada. Temos uma Constituição que nos dá o caminho.