Arthur Lira tenta tirar o coelho da cartola: “semipresidencialismo”, por Cristiano Lima


Sabemos que alguns indivíduos são dotados de capacidades inimagináveis de distorcer fatos, elaborar táticas de convencimento e retirar aquele “coelho da cartola” que ninguém imaginava, camuflando, para alguns, de forma completa suas reais intenções: Mentir.


É inegável, a qualquer um que acompanhe o cenário político, principalmente nos últimos 6 anos, que a capacidade de elaborar artimanhas de alguns parlamentares alinhados a setores da mídia e com uma pincelada de grupos conservadores, fomentou uma das maiores catástrofes sociais e econômicas que o Brasil já teve.


Desde mamadeiras, kits, ferrares de ouro e toda totalidade de absurdos que circulavam nas fontes obscuras de informação, desaguando nas redes sociais, até ao processo lavajatista legitimado todas as noites, em horário nobre, em canais de televisão que provocaram uma verdadeira enxurrada, destruindo todo um aparato de políticas públicas, direitos, soberania e, ainda, irrigando um futuro de corrupção que estava sendo semeado naquele ano de 2016. E hoje, no presente, estamos presenciando toda a negociata escondida através do negacionismo que provocou milhares de mortes com a pandemia, somado a milhares de desabrigados, famintos vítimas do desemprego e ignorados pelo governo Bolsonaro.


Mas em 2021, parece não estar sendo diferente, o “coelhinho na cartola” que já foi chamado de pedaladas fiscais, hoje recebe a alcunha de “semipresidencialismo”.


Com os direitos políticos do ex presidente Lula restabelecidos, o que nos acena a um cenário eleitoral promissor à democracia, ao povo e ao país, visto à sua preferência diante à brasileiras e brasileiros, tentou-se articular uma terceira via que pudesse vencer Lula e dar continuidade ao processo neoliberal estabelecido no país desde 2016, todavia nenhum nome cogitado foi suficiente para iludir, ou melhor enganar um povo que sente fome e desamparo e que enxerga em Lula sua esperança de retorno à dignidade humana.


Com isso, surpreendentemente, a astúcia de alguns parlamentares vem assumindo o protagonismo nos últimos dias, a terceira via, agora, se chama semipresidencialismo, uma forma de impossibilitar a atuação do presidente, que eles, entreguistas, já enxergam Lula como tal. A ideia é impedir que Lula, sendo eleito, não tenha independência para governar o país. O defensor dessa ideia é o bolsonarista Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados (PP-AL), que vislumbra esse modelo para 2026. Lira, é claro, vem enfeitando o coelho, afirmando que este sistema é adotado na Europa, por países como Portugal e França, disparando aquela velha e esdrúxula comparação do “quintal do vizinho”. (Mesmo que estes sejam vizinhos bem distantes, e com histórias bem diferentes da nossa).


Não há como não traçar uma comparação entre 2016 e 2021, se em 2016 o golpe invalidou o desejo da maioria dos brasileiros que escolheram através do voto direto a presidenta Dilma Rousseff para governar o país até 2018, a tentativa de instalar o semipresidencialismo, para 2026, nada mais é que uma manobra de invalidar o desejo do povo, novamente, ou seja, é uma forma de ataque ao princípio constitucional de que todo poder deve emanar do povo.


Estamos passando por um momento de destruição, necessitamos de reconstrução e não de desconstrução do que foi construído à base de tanta luta e sangue. A constituição de 1988 vem sendo atacada desde 2016. Este golpe, se aplicado, pode causar danos irreversíveis ao Brasil. Já devemos nos preparar para combater as falácias que defendem o semipresidencialismo e prometem inundar as redes sociais, com o único intuito de afogar a democracia e a soberania popular.


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Cristiano Lima é Educador, graduando em Geografia pela UERJ/CEDERJ e Escritor.

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