As manifestações de sábado e o pós-Bolsonaro, por Sérgio Batalha

Muitos estão associando a tímida cobertura da TV Globo e dos jornais “Globo” e “Estadão” a um possível apoio à reeleição de Bolsonaro. Há até a teoria de que haveria uma tentativa de “moderar” Bolsonaro para um segundo mandato, mantendo a política econômica e afastando o extremismo ideológico.

Na verdade, a cobertura discreta de setores da mídia das manifestações do dia 29/05 tem relação com a hegemonia deste movimento. Não há dúvida que a esquerda e os movimentos sociais convocaram os atos e deram o tom político das manifestações.

As organizações Globo e o Estadão fazem efetiva oposição ao governo Bolsonaro e não tem ilusões sobre o seu caráter de extrema-direita. Bolsonaro também não ofereceu qualquer proposta de trégua para estes veículos e mantém o projeto de sua destruição, com a substituição por outros simpáticos ao fascismo.

Por outro lado, o Globo e Estadão não mudaram sua orientação ideológica. Continuam a ser de direita e defender o chamado “neoliberalismo” econômico. Não têm nenhum interesse em divulgar atos organizados pelo PT, Psol e pelos movimentos sociais.

Assim, o cálculo do Globo e do Estadão tem a ver com o pós-Bolsonaro, ou seja, não querem que o movimento de oposição caia no colo da esquerda. Também não tem interesse, ainda que tenham de apoiar Lula em um eventual segundo turno, que a esquerda saia forte das próximas eleições.

O nosso movimento tem de ser, por óbvio, o oposto, qual seja, o de hegemonizar a oposição a Bolsonaro e trabalhar para o crescimento da esquerda como um todo no Brasil. Até porque a nossa direita, mesmo a civilizada, já demonstrou ter um compromisso muito tênue com a democracia ou mesmo com qualquer projeto de nação.

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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