Precisamos falar sobre o Felipe Neto, por Sergio Batalha


Assisti ontem a um trecho da entrevista do Felipe Neto no Roda Viva, especificamente o que ele fala do seu arrependimento no apoio ao impeachment e do seu envolvimento na luta contra o autoritarismo de Bolsonaro.

Em resumo, o Felipe Neto afirmou que o apoio ao golpe se deu por falta de leitura e estudo. Disse que não tem vergonha de admitir seu erro e que todo o artista ou pessoa pública tem obrigação de se posicionar contra Bolsonaro em defesa da Democracia. Seu discurso foi bem articulado, inteligente e, sinceramente, irretocável.

Há uma inexplicável má vontade de parte da esquerda com esse rapaz, que é um dos maiores influenciadores digitais do Brasil, com milhões de seguidores especialmente entre jovens e adolescentes. Ele já havia se posicionado contra Bolsonaro durante a eleição de 2018 e desde então vem sistematicamente criticando a postura preconceituosa e autoritária do presidente. Recebeu, inclusive, ameaças por parte das milícias digitais fascistas em função de tais críticas.

Eu vivi a minha infância, adolescência e parte da minha juventude sob a ditadura militar, onde aprendi, já na militância política, a importância de uma frente ampla democrática contra um regime autoritário. Nesta frente cabem todos os que se dispuserem a lutar contra o arbítrio e o autoritarismo, independentemente de erros cometidos no passado. 

Muitos talvez não lembrem, mas o próprio Ulysses Guimarães apoiou o golpe de 64 e Dom Hélder Câmara foi integralista na juventude. Nada disto impediu que eles depois se consagrassem como grandes campeões da democracia em nosso país.

Hoje o Wadih Damous fez um necessário elogio à dignidade de Felipe Neto ao admitir seu equívoco no apoio ao impeachment. Mas é necessário ir além. Penso que as lideranças da oposição, inclusive o próprio Lula, devem incorporá-lo na frente ampla contra o fascismo de Bolsonaro.

Na época da ditadura militar de 64, Chico Buarque teve um papel importante no enfrentamento do regime em função da popularidade de suas músicas entre a juventude em geral, não exclusivamente entre jovens politizados ou de esquerda.

Sem fazer comparações entre fenômenos artísticos inteiramente diversos, atualmente Felipe Neto tem uma influência entre a juventude semelhante a que teve Chico Buarque nos anos 70. Ele atinge uma juventude desencantada com a política e pode fazer a diferença no enfrentamento da milícia digital de Bolsonaro, atingindo uma maioria de jovens que não leem jornais, nem assistem aos telejornais.

Logo, cabe a nós, que temos a pretensão de ter uma maior experiência e conhecimento da política, sermos os primeiros a dar as boas-vindas ao Felipe Neto no campo que hoje defende a Democracia, o Estado de Direito e os interesses do nosso povo na luta contra o fascismo hoje instalado no governo federal.
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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

Um comentário:

  1. Sábias palavras, Sérgio Batalha. Assisti também a entrevista do Felipe Neto. O ser humano é humano quando reconhece que errou. Seja bem-vindo Felipe!

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