Lula, o erro e a “polarização”, por Sergio Batalha


Ontem, Lula errou. Não foi a primeira vez, não será a última e não foi grave. Em uma longa entrevista, tropeçou nas palavras e, ao invés de dizer que “infelizmente” teve de surgir um vírus monstruoso para que percebamos a importância do Estado, disse o oposto. No dia seguinte, quando percebeu o erro, esclareceu a frase dentro do contexto e se desculpou com as pessoas.

A mídia aproveitou o deslize de Lula e, além de divulgar o erro (o que seria natural), passou a mostrar Bolsonaro e Lula como exemplos da “polarização” que prejudicaria o país. Tal imagem foi ansiosamente replicada por diversos setores da direita liberal e “moderninha”, que hoje busca se apresentar como alternativa “sensata” ao bolsonarismo.

Não há uma “polarização” no país, pois o PT e Lula não são de extrema-esquerda. Lula fez dois governos de feição claramente social-democrata, com programas sociais para corrigir a desigualdade de renda no país. Não estatizou bancos ou setores da economia, não confiscou terras ou propriedades, nem mesmo taxou pesadamente os lucros. O mesmo ocorreu com Dilma.

Os governos petistas mantiveram as instituições funcionando sem sobressaltos, deram independência ao Ministério Público e à Polícia Federal (como admitiu o próprio Sérgio Moro) e o partido aceitou pacificamente um impeachment ilegal, sem recorrer a ameaças ou confrontos violentos.

O problema no Brasil atual é a ascensão da extrema-direita, do fascismo, que, na verdade, teve seu caminho pavimentado pelos mesmos liberais moderninhos que hoje reclamam de Bolsonaro e falam da polarização. Eles forneceram quase metade dos votos que elegeram Bolsonaro e admitiram sacrificar a democracia em troca de “tirar o PT”, que se tornou um mantra entre a elite brasileira.

Agora, com o doloroso e absoluto fracasso do governo Bolsonaro, que não favoreceu nem mesmo  esta elite que torcia o nariz para a social-democracia do PT, surge a busca por uma alternativa para superar a crise.

Neste momento, nada como culpar ironicamente o próprio PT pela ascensão de seu maior adversário, apresentando os direitistas que o apoiaram como a opção “sensata e equilibrada” para superar o fascismo bolsonarista.

Vamos integrar uma mesma frente com a direita não fascista para derrubar Bolsonaro, mas não somos idiotas. Sabemos o que vocês fizeram no verão passado e a cobrança virá.

Por ora, basta dizer que a história de vida de Lula, sua atitude desde o início da pandemia, impedem qualquer pessoa de boa-fé de compará-lo a Bolsonaro. Olhem para o seu próprio rabo e lembrem o que faziam no segundo turno da eleição passada.
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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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