Sobre eleições municipais, frente antifascista e ‘otras cositas mas’, por Yagoo Moura


Muitos minimizaram o que estava em jogo na eleição de 2018. Uns votaram em Bolsonaro "criticamente", por simpatia com o programa ultraliberal de Guedes, e outros tantos lavaram as mãos, anulando ou votando em branco. Nós, que alertamos o que ocorria, éramos alarmistas. "As instituições estão funcionando": diziam. Era como se uma pessoa que há 30 anos defende o autoritarismo fosse se transformar em um democrata da noite para o dia. 

Se passaram dois anos. O espectro da barbárie que nos rondava ganhou corpo e hoje tem contornos bem definidos. O (auto)golpe é uma ameaça concreta, juntamente com o fechamento de regime e o fim do que nos resta de Estado de Direito. 

Ainda assim, em um cenário tão distópico, sinto que não aprendemos. As eleições municipais, importantes para medir a popularidade do governo, repetirão erros crassos de outrora. Não existirá 2022 sem 2020. Estamos em um momento crucial e, a bem da verdade, não sabemos se daqui a 2 anos ainda teremos o direito de votar. 

A eleição do Rio de Janeiro é fundamental para a redemocratização do país. Até porque aqui foi parido o bolsonarismo, o neofascismo brasileiro. Aqui é o berço das milícias, que foram fator importante nas eleições de Bolsonaro e sua família. 

No Rio, em um cenário como o atual, o PDT age da forma como acusava o PT de ter agido em 2018: hegemonista. Apresenta um nome que não deve chegar a 3% em uma pesquisa de intenção de voto, e não abre mão. 

Vale lembrar que o PT não abriu de uma candidatura quando o nosso nome - Lula - liderava as pesquisas e tinha enorme potencial de transferência de votos, o que ocorreu, embora não tenhamos vencido o pleito, fraudado das mais diferentes maneiras: com o vazamento da delação de Palocci e de informações sobre operações da PF que implicavam o filho do presidente, como revelou Paulo Marinho à Folha. 

No Rio, o PT decidiu não lançar candidato e apoiar a candidatura de Marcelo Freixo, um dos maiores nomes das oposições e liderança imprescindível para o futuro do campo popular. Seu partido, o PSOL, tem um grupo minoritário, mas escandaloso, que se doeu pela aliança com o PT. 

Estamos para ser tragados pelo fascismo e algumas correntes partidárias insistem em sectarismo. Como o próprio Freixo disse em sua conversa com Haddad: "sectarismo em um contexto de fascismo é irresponsabilidade". Que acertem suas contas com a História. 

Em outras capitais, quando outro nome das esquerdas desponta, o PT fez o mesmo. Vide o apoio à Manuela D' Ávila em Porto Alegre. Em São Paulo, lançará nome próprio, já escolhido em um controverso processo interno. Convenhamos: não há nome do campo progressista, nem a legítima candidatura de Guilherme Boulos, que motive o não lançamento de uma candidatura petista em uma cidade que já foi 3 vezes governada pelo nosso partido.

Nesse quadro, a retirada do nome de Marcelo Freixo é péssimo. Suas críticas são importantes para contribuir com uma reflexão sobre como as esquerdas estão agindo em um momento como o atual: os que acusavam o PT de hegemonistas fazem aquilo que criticavam. 

Resta saber como se comportarão as forças do campo democrático-popular depois da retirada do nome de Freixo do páreo. Que haja responsabilidade com as milhares de vidas ceifadas por uma pandemia que se alimenta de um desgoverno e consciência do óbvio: o país não aguenta até 2022 com Bolsonaro. Este governo precisa ser deposto e um passo importante para isso é unir as esquerdas contra o fascismo e derrotar os representantes do bolsonarismo nas eleições municipais.
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Yagoo Moura é graduando em ciências sociais.

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