Mais impressões das manifestações bolsonaristas, por Daniel Samam


Segundo pesquisa realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP), dos manifestantes que foram à Avenida Paulista no último domingo (26), 41% se declararam católicos, 19% evangélicos pentecostais, 9% espíritas/kardecistas, 7% evangélicos seculares, 8% com outras religiões e 16% com nenhuma.

No perfil socioeconômico, 15% eram empresários, 18% aposentados, 20% autônomos e 27% empregados com carteira de trabalho, 7% se declararam desempregados, 6% de funcionários públicos, 4% de estudantes e 3% de informais ou sem emprego fixo. Na política, 76% se colocam à direita, 72% se consideram conservadores em temas como família, drogas e punição a criminosos; e 88% se afirmam antipetistas. 

De fato, o bolsonarismo tem uma base social mobilizada. Vide os discursos dos manifestantes de que o presidente precisa trabalhar e o STF e Congresso é que não deixam, colocando Bolsonaro como "vítima" do sistema. Seguindo essa narrativa, o bolsonarismo tende a blocar, assumindo uma postura cada vez mais radical e autoritária, escanteando a direita tradicional, sendo o porta-voz único do antipetismo e da negação da política - deixando MBL, Vem pra Rua e correlatos "pendurados na brocha", sem discurso pra sociedade. Bolsonaro segue uma estratégia de governar como se ainda estivesse em campanha, polarizando, muito semelhante com o modus operandi de Trump nos EUA.

Enquanto as manifestações a favor de Bolsonaro aconteceram em 156 cidades dos 26 estados, incluindo o DF no último domingo (26), no último dia 15 de maio, uma quarta-feira, manifestações tomaram as ruas de 222 cidades, também dos 26 estados e do DF contra o governo, contra a reforma da previdência e contra os cortes na Educação. E nesta quinta-feira (30), tem mais um dia de manifestações contra Bolsonaro e em defesa da Educação pública. O dado novo é que a polarização chega às ruas.

Com isso, o impasse político persiste dando contornos dramáticos à crise econômica e social, fruto de uma crise de hegemonia inaugurada em 2013, que segue firme e forte, sem nenhuma perspectiva de que algum projeto político se estabeleça no médio prazo.

Nenhum comentário: