Boi de Piranha, por Paulo Branco Filho


Em 2016 eu havia escrito uma crônica destacando que todo golpe Branco, para ser “legitimado”, precisa de seus bois de piranha. Em 2018, numa jogada que tem como objetivo resgatar, minimamente, a crença da população na Operação Lava Jato e nas carcomidas instituições, o circo da justiça brasileira lançou às piranhas aquele que não tem mais utilidade política para o golpe e sua sustentação: o Senador Aécio Neves.

A isca mordida, previsivelmente, pela classe conservadora, serve como álibi para que se mantenha o discurso atemporal de que estão “varrendo a corrupção”, ou limpando o “mar de lama”: expressões que não saem de moda no Brasil, ditas da esquerda à direita, mas que nunca nos levaram a lugar algum. Falar de corrupção por aqui é uma imbatível jogada de sucesso: promove o milagre de transformar uma alma penada em figura imaculada, de caráter e coragem.

Vale lembrar que Eduardo Cunha, o operador direto do golpe, só foi abandonado após executar o trabalho sujo, em mais uma demonstração da quebra do protocolo moral e temporal do judiciário.

A história, mais uma vez implacável, mostra que aqueles que, por obsessão e vaidade, são capazes de sujar as mãos e atropelar a democracia para serem representantes da perversão do mercado, naturalmente, serão descartados quando já não fizerem mais diferença. Tudo como numa grande máfia: aquele que manda matar, depois do fato consumado, se for necessário, elimina ou entrega também o grande operador.

Enquanto isso, os verdadeiros beneficiários da trama jamais são citados pela crítica: os donos do capital, veneradíssimos por aqui, a essa altura riem de nós: mais uma vez, com uma facilidade tremenda e uma mão de obra baratíssima, vão tomando para si o país e suas riquezas. Vão surrupiando item por item, enquanto são exaltados diariamente por especialistas da área econômica. Levam o título de projetores de uma nação, sob a regência da grande mídia e uma torcida organizada, idiotizada e mesquinha que adora bater panelas.

A política, única forma de se construir um país, vai sendo esfacelada, fortalecendo o discurso apolítico. A grande maioria continua a reduzir o debate, expressando clichês improdutivos, resumindo, como solução, o ódio e o punitivismo: duas características emblemáticas de históricos desastres sociais.

O sociólogo Jessé de Souza que nos ilumine.


Paulo Branco Filho é professor de artes marciais e cronista.

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