Alma Imortal, por Paulo Branco Filho

Caricatura do gênio Lan.

Meus amigos,

Fazia tempos que eu não aparecia. Muitos pensam que eu estou morto, mas não. Estou vivo e com as ideias sempre atualizadas, combatendo o mal e tudo aquilo que é imoral. Sou como um grande atacante, matador e oportunista: nos momentos de crise, corrupção e caos, ressurjo como um salvador, mesmo que seja sob a figura dos meus netos tucanos, que vocês conhecem bem.

Para não ficar no egocentrismo, característico dessa gente que só pensa em si e não na nação, serei breve.

Venho por meio desta, parabenizar o TRF4 e, principalmente, a Lava Jato. Senhores, vocês foram esplêndidos! Muito melhores do que os traidores militares, cujo em 1964 eu incentivei a tomada de poder, por uma carta como esta, e fiquei a ver navios.

Condenaram o maior chefe de quadrilha já visto, desde os tempos de Getúlio Vargas, aquele que fez do Catete, bairro que ainda frequento por uma obsessão incontrolável, um mar de lama. Não gosto nem de falar este nome. Dá-me ojeriza, uma sensação de retrocesso e ainda atraí espíritos malignos para perto de mim.

Voltando a condenação, não podemos deixar de ressaltar a eficiência da ação: pegaram o sujeito antes mesmo que ele pudesse usufruir dos benefícios de sua articulação. O barbudo nem conseguiu dormir um dia sequer no tríplex e a justiça foi lá e pá, condenou-o falando somente do Mensalão. Quanta inteligência tática. Deu de 3x0 na República do Galeão!

Afirmo, como minha vasta experiência em caos, que estamos no caminho certo. O país está sendo higienizado por um setor sério, que não se corrompe: o nosso admirável judiciário provou que Lula é ladrão. E para ladrão, meus amigos, não precisa haver provas. Basta observar os trejeitos que não restará dúvidas.

Para essa gentezinha que insiste em dizer que tudo não passa de mais uma articulação do golpe, eu vos digo que isso foi um golpe de seriedade. A ladainha de autonomia para Polícia Federal, independência para o MP e a republicana indicação de ministros do STF são provas de que quem veste a toga não se corrompe. Lula aparelhou, mas no final das contas vai ser aparelhado.

A minha orientação é para que vocês não deem mais chances para esses populistas voltarem. Não caiam em ciladas. Quando o sujeito quiser fazer universidades, atendimento médico nas regiões mais carentes e programas habitacionais, não deem ouvidos. Isso é populismo barato. Inclusive, sugiro que, sempre que pressentirem o perigo vermelho, repliquem em voz alta este termo, seguido da palavra comunista, como se vocês estivessem em uma missa dominical, pedindo o afastamento e a libertação do mal. É batata, sempre funcionou.

E no mais, a gente sabe que esse projeto ignóbil é uma catástrofe. O mercado reage com retaliações, o dólar dispara e gente de bem, que tem um vasto estoque cultural, fica sem paz para frequentar restaurantes e fazer viagens internacionais.

Não sou eu quem diz isso, são os especialistas, que estão em quase todos os canais e rádios, uma multiplicação fascinante do Repórter Esso.  Vocês podem não entender tudo que eles dizem, mas a palavra deles é como um mantra a ser seguido e repetido. O mercado, meus caros, é a voz de Deus e deve estar onisciente e onipresente, inclusive no Estado, mesmo que sua entrada principal seja pelas mãos de um Eduardo Cunha, o meu malvado favorito. Se você não entendeu, lembre-se somente que o mercado é Deus e Deus não se contraria!  

Compatriotas, vamos entoar as bandeirolas do Brazil nas janelinhas de seus lares. Quando disserem que tudo não passa de ódio de classes, sorriam com elegância e a moralidade que nos são peculiares. Não deixem de combater o mal por aqui também: façam sempre uma postagem com a hashtag #LulanaCadeia, numa demonstração de coragem, caráter ilibado e  sede por justiça.   

E agora, como tudo já está dentro do controle, a Lava Jato pode descansar em paz, mais em paz do que o meu espírito que ainda sonha com a faixa presidencial, com a certeza de que cumpriu seu papel. Inclusive, o processo contra José Serra, meu netinho mais velho, foi arquivado ontem mesmo, pela saudosa Raquel Dodge. O tempo passou e quando foram ver,  prescreveu. Antes que digam qualquer coisa, eu afirmo que os meus netos tem sorte. E a sorte anda lado a lado com gente de bem.

A minha mensagem final é para que vocês fiquem tranquilos. A democracia, agora salva, ressurgirá como um grande sol, cheia de luz e esperança, depois de um período nebuloso e obscuro.

Esses são os votos daquele que está mais vivo do que vocês imaginam. Em breve escrevo mais.

Um abraço fraterno e reacionário,
Lacerdinha Reação 


Paulo Branco Filho é professor de artes marciais e cronista.

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