Unidade popular e luta assimétrica, por Val Carvalho

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Sei que é inevitável nas redes sociais comentários ansiosos sobre as chances de Lula de ser candidato. Não costumo compartilhá-los, pois não passam disso: ansiedade da militância. A única chance de Lula ter seu nome na urna, que a rigor não é uma chance apenas de Lula, mas principalmente do luta pela democracia no Brasil, está no crescimento do conjunto das lutas contra o golpe.

Um conjunto que abrange desde a continuidade da luta jurídica contra a condenação de Lula, passando pelas lutas parlamentar, pela solidariedade internacional, pelo avanço da Frente Ampla, pela intensificação da comunicação popular nos blogs, redes sociais e rádios comunitárias, até chegar ao seu cerne: as lutas de massas. O chamado clamor do povo nas ruas!

Se o movimento democrático e popular ainda não pode ser mais forte do que a Rede Globo e o bloco dos golpistas, tem de ser melhor e mais eficiente naqueles pontos em que eles não chegam ou são mais fracos do que nós. Nas ruas, hoje somos mais fortes. A Globo não consegue mais mobilizar uma massa de coxinhas. A organização em todas as cidades, estados e nacionalmente do Congresso do Povo, é uma estratégia eficiente, contra a qual pouco podem fazer nossos inimigos. Na solidariedade internacional somos muito mais fortes do que os golpistas. Os advogados de Lula conseguiram mobilizar até a ONU. Na blogosfera conseguimos enfrentar o monopólio da comunicação, mas é uma área em constante mudança e que podemos melhorar ainda mais.

Os golpistas já não têm mais a enorme vantagem inicial que tinham com a manipulação das massas por meio do monopólio da comunicação. Ao contrário de 2015 e 2016, atualmente a Globo já não influencia eleitoralmente 40% do eleitorado, que insiste em apoiar Lula em todas as pesquisas, mesmo estando ele condenado.

Falo isso tudo para salientar as vantagens relativas do movimento popular perante o bloco golpista. Mas enquanto não conseguir fazer o país crescer, coisa que a sua própria política econômica se encarrega de impedir a coesão do bloco golpista não é tão forte quanto aparenta. Assim, e diante do isolamento internacional e da possível derrota da reforma da Previdência, e ainda assombrado com o crescimento do movimento de massas e a continuidade de Lula liderando as pesquisas, os golpistas vão rachar. A questão é sabermos explorar em benefício da reconquista da democracia a divisão dos nossos inimigos.

Considerando esses aspectos, temos de desenvolver a luta assimétrica contra o inimigo golpista, o que significa sermos melhores e mais fortes onde eles são fracos e têm dificuldades de nos atingir. Melhor pensar nisso do que apenas falar em uma radicalização ideal, mas sem massa popular para tanto.

Precisamos avançar a partir do patamar organizativo de Porto Alegre para formar um bloco popular capaz de sustentar uma luta prolongada, se assim exigir a conjuntura. Nesse sentido, é preciso que nossos dirigentes vejam mais longe e sejam mais operativos, demonstrando tranquilidade na luta a fim de aumentar a confiança da militância.


Val Carvalho é militante histórico do Partido dos Trabalhadores e lançou recentemente o livro "Couro Curtido - Memórias de um militante comunista".

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