E se o descontentamento se transformar em rebelião? Por Marcelo Barbosa da Silva

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Alguns setores do centro-democrático manifestam sua discordância em relação à atitude dos partidos mais expressivos da esquerda brasileira (entre os quais, o PT), bem como do sindicalismo e dos movimentos sociais, de não aceitar a condenação do Presidente Lula e, com isso, manter a pré-candidatura deste último ao Planalto, em 2018.

Argumentam que "decisão judicial é para ser cumprida". Mas, será que é assim? Por óbvio, nos quadros de um regime constitucional e democrático, impõe-se o cumprimento das sentenças proferidas em todos os graus de jurisdição. Contudo, no âmbito do Estado de Exceção instalado a partir de 2016, em nosso país, as coisas se tornam muito mais complexas.

O que temos, na realidade é um imenso desequilíbrio entre os poderes, especialmente entre um Executivo flagrantemente ilegítimo, chefiado por Michel Temer e um Judiciário que vem descumprindo sistematicamente a Constituição e as leis ordinárias, oferecendo julgamentos baseados em "convicções" e não na legislação em vigência. Quanto ao poder Legislativo, não vale nem a pena mencionar, por óbvio.

Enfim, apenas nos noticiários da rede Globo e na cabeça de certos analistas próximos ao autismo, a convicção de que as instituições estão funcionando, a contento, se sustenta. Na realidade, na base da sociedade, fermenta um descontentamento silencioso ante a espiral do desemprego, do corte de direitos sociais e do fim da aposentadoria que ameaçam qualquer pretensão à normalidade.

Portanto, para os setores do centro-democrático, respeitáveis por certo, que defendem uma solução mais formal do que real para o quadro político – sugiro ouvir o que um prócer da melhor tradição republicana brasileira chamava de voz "rouca das ruas". Se apurarem a audição, poderão notar que, após a surrealista decisão dos desembargadores da 4ª Região – no qual o direito de voto dos pobres sofreu uma direta supressão – está tudo pronto para o descontentamento popular silencioso se transformar em rebelião aberta.


Marcelo Barbosa da Silva é pós-doutorando em Literatura Comparada pela UERJ, diretor-coordenador do Instituto Casa Grande e autor, entre outros, de "A Nação se concebe por ciência e arte - três momentos do ensaio de interpretação do Brasil no século XIX".

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