Uma pesquisa e o temor da mudança no quadro eleitoral, por Sérgio Batalha


A recente pesquisa do Ipespe, que mostrou Bolsonaro com 30% de intenções de voto e um crescimento de 4% por cento, gerou muita apreensão na esquerda. Seria esta uma tendência? Bolsonaro poderia se recuperar e vencer a eleição?


Antes de tirar minhas próprias conclusões, procurei ouvir a opinião de especialistas, no caso o cientista político Alberto Carlos Almeida, que posta suas análises em um grupo privado denominado “O bastidor da política.


Alberto Carlos Almeida faz algumas observações objetivas e muito pertinentes, que vão muito além de impressões ou palpites. Primeiro, ele destaca que é importante analisar a chamada média das pesquisas públicas, ou seja, a média das pesquisas devidamente registradas no TSE. Em segundo lugar, observa que esta média mantém-se estável há oito meses.


Na própria pesquisa do Ipespe, Lula mantém uma distância de 14 pontos para Bolsonaro no primeiro turno e amplia esta vantagem para 21 pontos no segundo turno. Bolsonaro aumenta sua votação em 4 pontos, mas Lula, ironicamente, fica mais próximo de uma vitória no primeiro turno, quase superando a soma dos demais candidatos após a desistência de Moro.


Por fim, Almeida destaca que para derrotar Lula, Bolsonaro tem de tirar votos do petista. Nesta pesquisa do Ipespe, Lula mantém-se com o mesmo percentual da pesquisa anterior. Bolsonaro cresce com a desistência de Moro e com a melhora na avaliação do seu governo, que deve ter recuperado alguns de seus eleitores antes indecisos ou propensos a escolher outro candidato de direita.


No entanto, a rejeição de Bolsonaro é elevadíssima e a avaliação do seu governo ainda é ruim, o que limita o seu crescimento. Suas chances de vitória residem em uma grande reviravolta na percepção dos eleitores sobre o seu governo, fato improvável faltando seis meses para as eleições e em uma conjuntura econômica de inflação e baixo crescimento.


Lula continua sendo o favorito, mas o crescimento de Bolsonaro deve acender o sinal de alerta para a necessidade de ampliar a frente democrática da sua candidatura. Não será uma vitória da esquerda, mas de amplos setores democráticos e populares que respaldam a retomada de um projeto de crescimento com distribuição de renda, mantendo a democracia e o Estado de Direito. É o desafio de resgatar um país entregue ao fascismo, um desafio que é maior do que Lula ou o PT sozinhos.


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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho.

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