O naufrágio da terceira via e a migração dos seus votos, por Sérgio Batalha

Desenho de André Dahmer.

Ontem foi sepultada de vez a ideia de uma “terceira via” que retirasse do segundo turno Lula ou Bolsonaro, os líderes de todas as pesquisas de opinião. A desistência de Moro e a desesperada cartada de Dória, que chegou a desistir de sua candidatura e recuou diante das ameaças de seu vice-governador, deixaram clara a inviabilidade de uma candidatura que pudesse superar Lula ou Bolsonaro faltando apenas seis meses para as eleições.


Todos os principais candidatos da “terceira via” eram bem conhecidos e, nada obstante, tinham percentuais baixos de intenção de votos. Pior, tinham um índice de rejeição elevado, como era o caso de Moro, Ciro e Dória.


Na verdade, a busca da chamada “terceira via” nunca foi um desejo do eleitor, um movimento espontâneo. Era um desejo de parcelas do empresariado insatisfeitas com a possibilidade de vitória de Lula ou Bolsonaro. Buscavam, de fato, um candidato de direita mais moderado, que fizesse um governo mais funcional e menos ideológico.


Já o eleitor definiu seus caminhos de forma nítida. Há uma parcela majoritária que não suporta a ideia de um novo mandato de Bolsonaro e vê com simpatia, ou ao menos com certa esperança, um retorno de Lula à presidência. 


De outro lado, há uma base consolidada de eleitores ideológicos, que compraram a ideia de Bolsonaro do combate à “esquerda” e defesa de valores morais conservadores. É um grupo menor, mas que nunca apresentou intenções de voto abaixo de 20%..


Os demais candidatos devem patinar na faixa de um dígito, inclusive Ciro e Dória. Por outro lado, os votos de Sérgio Moro devem se dividir entre Lula e Bolsonaro, como já revelam algumas pesquisas.


Embora Moro seja um candidato de direita, seus eleitores rejeitaram Bolsonaro para aderir a ele. Uma parte pode retornar, outra pode escolher outro candidato e um terceiro grupo pode aderir a Lula, o candidato mais forte para derrotar Bolsonaro. Estes movimentos parecem por vezes ilógicos, mas são comuns entre eleitores menos ideológicos.


Por fim, a análise da média das pesquisas no último ano revela uma estabilidade impressionante. Lula sempre na liderança, seguido por Bolsonaro. O provável é que este cenário permaneça, com um segundo turno entre os dois líderes. A vitória de Lula também é o mais provável, eventualmente com um crescimento de Bolsonaro que torne a eleição mais apertada.


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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho.

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