O retorno da Rússia, por Chico Teixeira


Publicado originalmente no Brasil 247.


Temos que ir além da guerra de informações (de ambos os lados) e nos ater ao estrutural: o planejamento bélico russo é clássico: ataques pontuais aos centros nevrálgicos de transporte/comunicação/ infraestrutura paralisando a Ucrânia.


Cyber ataques intensos. 


Assim, aeroportos, ferrovias e anéis rodoferroviários são os alvos centrais. 


Não estamos vendo cidades sendo bombardeadas em massa, salvo erros de ambos os lados - todos terríveis para a população civil. 


O que vemos são áreas periféricas de entroncamentos e nós de infraestrutura.


Além de terríveis erros eventuais.


Paralisada a capacidade de mobilidade da Ucrânia começa a operação de ocupação "pontual" dos centros político-administrativos, como os ministérios, quartéis e, claro, a presidência. 


São aí os combates que vemos na tv, mesmo que mal documentados (dia, hora, local, tropas).


Pelo desenvolvimento das ações projetadas, não há um plano de ocupação territorial total.


Neste estágio a Ucrânia se disporia a negociar com os invasores.


A alternativa seria a queda do governo e a imposição de regime títere. 


No momento, para a Rússia, o mais conveniente é negociar com o governo Zelensky enfraquecido, em vez de impor  um títere sem nenhum reconhecimento internacional. 


Zelensky assinando a paz daria uma boa foto para os russos.


É possível que Zelensky seja derrubado, após assinar a paz. Mas, a negociação com ele é altamente legitimadora para os russos.


Tudo dependerá do preço da paz. "Aí dos vencidos", sabemos desde a Antiguidade.


Teremos na mesa:


1. A cessão da  integralidade de Donetsk/ Lugansk;


2. Um estatuto de neutralidade para a "Rest Ucrania";


3. O uso facultativo do russo no sistema educativo nacional;


E cláusulas explosivas:


A situação da soberania sobre Odessa, Mariupol e Krakov e seus "oblast".


Tudo ainda muito fluido.


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Chico Teixeira é Historiador e professor titular da UFRJ.

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