As origens da guerra da Ucrânia, por Sérgio Batalha


A OTAN foi criada para enfrentar a expansão soviética na Europa Oriental após a 2ª Guerra Mundial. Os países ocidentais temiam que países como a Alemanha caíssem totalmente na esfera de influência da URSS e criaram uma força militar para impedir que isto ocorresse.


A desintegração da União Soviética, com a independência de várias de suas antigas repúblicas, enfraqueceu a Rússia, que nos anos 90 perdeu muito do seu poderia militar em função da deterioração da sua economia.


A Rússia dos anos 90 tornou-se uma potência regional decadente, imersa em graves problemas econômicos e submissa à hegemonia mundial dos EUA.


Obviamente, a OTAN perdera seu sentido original, pois não havia mais a “ameaça comunista” a assolar a Europa Ocidental. Ao contrário, os países da Europa Oriental se tornaram capitalistas e com governos de direita, passando a seguir a liderança dos EUA.


No entanto, os EUA não estavam satisfeitos. Sempre julgaram que seu destino era conduzir o mundo e, não apenas mantiveram a OTAN, como passaram a expandi-la na direção da Rússia. Estimularam a derrubada de um governo ucraniano pro-Russia para substituí-lo por um líder favorável ao ingresso do país na OTAN.


Ocorre que tal processo encontrou uma Rússia fortalecida economica e militarmente, com um líder forte, tão ao gosto dos russos.


Os movimentos de independência de parcelas da Ucrânia historicamente pertencentes à Rússia e de população majoritariamente russa foram enfrentados com a força pelo governo ucraniano. A guerra civil se arrasta desde 2014 e a Ucrânia pretende ingressar na OTAN sem abrir mão destes territórios.


Putin não é de esquerda, de direita, muito menos ainda um louco. Percebeu que o ingresso da Ucrânia na OTAN seria um sinal verde para a reincorporação dos territórios rebeldes pela força, sob o guarda-chuva militar dos EUA e de seus aliados europeus. Decidiu usar a força enquanto ainda é possível, de modo a frear a expansão da OTAN e resolver o impasse na Ucrânia.


Putin exacerbou o uso da força? Violou o Direito Internacional e a Carta da ONU? Com certeza, mas, como um analista mais cínico responderia, quem liga? Os EUA vêm fazendo isto há décadas sem consequências ou sanções. O que foi a invasão do Iraque? Poderíamos citar vários outros exemplos de uso da força bruta para impor a agenda geopolítica americana, sem esquecer a chamada “guerra híbrida” contra países como a Venezuela, Líbia, Síria e mesmo o Brasil.


A verdade que a voz uníssona pró-americana nas mídias ocidentais tenta esconder é que Putin resolveu jogar o “jogo bruto” que os americanos vêm jogando há muito tempo. Tem força e apoio dos russos para esta agenda, até porque a Ucrânia pertenceu à Rússia desde o século XVII. Não é para os russos como um Iraque ou Vietnã para os americanos.


O mundo que emerge desta guerra pode se tornar ainda mais violento ou tentar buscar um novo equilíbrio, com ênfase na diplomacia e abandono da força. Mas este equilíbrio não será alcançado com a entronização da versão americana para a crise, muito menos ainda com a demonização da Rússia de Putin.


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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho.

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