O mundo real fora da fantasia bolsonarista, por Sérgio Batalha


Bolsonaro discursou para os seus eleitores na Assembleia Geral da ONU, como já tinha feito antes. Não há qualquer senso de responsabilidade com a posição Internacional do país, apenas o projeto de manter sua base eleitoral coesa com o discurso fantasioso de sempre.


O curioso é confrontar a retórica bolsonarista com o mundo real em que vivem seus apoiadores. O anticomunismo anacrônico do seu discurso não consegue esconder nossa dependência de um país socialista.


A China hoje não é apenas o maior importador no mundo de produtos brasileiros. As exportações para a China em 2020 somaram 3,3 vezes o valor das nossas exportações para os EUA. Mais precisamente, 70 bilhões de dólares contra 21,5 bilhões. As vendas brasileiras para a China em 2020 superaram com folga nossas exportações para os EUA, União Europeia e Argentina somados.


Ironicamente, os maiores prejudicados com um abalo nas relações comerciais entre Brasil e China seriam os setores da economia que ainda apoiam Bolsonaro, os produtores rurais e a agroindústria. Só a soja, carne de boi e de frango exportados para a China representam cerca de 25 bilhões de dólares anuais.


Assim, a retórica anticomunista de Bolsonaro é vazia de gestos concretos, ao menos em relação à China. O que sobrou para Bolsonaro foi ser feito de bobo por seu parceiro mais esperto na extrema-direita, Boris Johnson. 


Johnson foi o único líder que aceitou um encontro público com Bolsonaro. Mas o motivo logo se tornou claro. Diante dos jornalistas, perguntou se Bolsonaro se vacinou e, com a resposta negativa, elogiou a vacina AstraZeneca, produzida em parceira com o laboratório inglês Oxford, e estimulou todos a tomarem vacina.


Em resumo, Boris Johnson usou Bolsonaro para projetar uma imagem de líder responsável, humilhando e ridicularizando o presidente brasileiro. 


Diante deste mundo real, só o ranço escravagista pode justificar o renitente apoio do setor rural a Bolsonaro. A sociedade brasileira não esquecerá aqueles que apoiaram um delírio fascista em troca de um dólar mais caro e de mais liberdade para desmatar.


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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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