Conjecturas acerca do 7 de setembro bolsonarista, por Daniel Samam

O elemento central da conjuntura fascistizante é a escalada da tensão entre os poderes a partir da dobrada de aposta e a radicalização para a mobilização dos atos bolsonaristas do próximo dia 7 de setembro.


Por isso, é muito difícil conjecturar sobre os atos da próxima terça-feira. Se por um lado, falar em golpe soa alarmista, por outro, descartar uma tentativa de ruptura é ignorar o que Bolsonaro vêm dizendo desde que chegou à presidência. A avaliação de diversos setores é de que o presidente não dispõe das condições necessárias para uma ruptura.


Bolsonaro, por sua vez, tem clareza de que fica a cada dia mais difícil vencer as eleições de 2022. Derrotar Lula exigirá uma conjunção de fatores econômicos e políticos quase impossíveis a essa altura da quadra conjuntural. Deste modo, a eleição vai se tornando o "plano B" do presidente de plantão.


A única forma de Bolsonaro vender a narrativa de que segue forte é com apoio das ruas. Por isso, passeatas, "motociatas" e grandes aglomerações dão força à narrativa de que, diante de um resultado desfavorável, lhe autorize a não aceitar o resultado das eleições do ano que vem. Ate lá, a tentativa sistemática será a de minar de todas as formas o funcionamento das instituições. O terror e o medo são parte central da estratégia e do método bolsonarista, bem como nos movimentos fascistas mundo afora.


Se tudo correr dentro do roteiro bolsonarista, milhões de brasileiros irão às ruas no 7 de Setembro para demonstrar seu apoio à radicalização de Bolsonaro. Em Brasília, pode haver confronto com os indígenas acampados à espera da votação do Marco Temporal no STF. Em São Paulo, há a preocupação com as caravanas de PMs e de membros de clube de atiradores vindos do interior. Está previsto que Bolsonaro discursará na Avenida Paulista. 


Percebam a mudança no método: nas manifestações anteriores, o bolsonarismo as tratava como "espontâneas". Desta vez, o presidente, membros do governo e parlamentares da base fazem questão de convocar seus apoiadores publica e reiteradamente. Sinal de desespero? Pode ser. Mas também de confiança de que algo grande poderá acontecer. E não tenhamos dúvidas de que será mais uma "página infeliz da nossa história", com os principais símbolos da Nação sequestrados pela marcha fascista que desfilará com todo discurso de ódio e de teorias conspiratórias das mais absurdas.


Mas o que Bolsonaro deseja das ruas? De cara, parece que ele deseja demonstrar força e, pra isso, ele aposta em algum grau de desordem e distúrbios. Logo, é razoável dizer que Bolsonaro vislumbra a violência (toda semelhança ao trumpismo não é mera coincidência). Por dois motivos: Primeiro, porque é uma ótima maneira de continuar polarizando; Segundo, porque a violência é o melhor pretexto para Bolsonaro invocar o art. 142 (amparado na falta de entusiasmo das Forças Armadas em defender a legalidade e a democracia), mediante uma situação de descontrole social que justifique alguma forma de estado de exceção para restabelecer a ordem. Ou seja, suspensão dos poderes constitucionais, como no jargão bolsonarista: "intervenção militar com Bolsonaro no poder". Juridicamente, pode parecer e é uma tese ridícula, mas politicamente se torna possível se levarmos em conta que autogolpes e ataques às instituições tem precedentes de sobra do lado debaixo da linha do Equador.


Isso sem contar na tática do mártir, decisiva na campanha de Bolsonaro de 2018. Situação hipotética: Bolsonaro discursando em cima de um carro de som na Avenida Paulista pode ser vítima de um atentado. Isso poderá servir de justificativa para uma tomada autoritária de poder, provavelmente com uma conflagração violenta. É o imponderável.


O bolsonarismo é minoria na sociedade brasileira. No entanto, é uma minoria ideologizada, mobilizada e violenta. Algo que nunca tivemos no poder no Brasil. Dito isto, o 7 de setembro deve ser grande para manter sua base perfilada e pintada para a guerra, mas também, por outro lado, pode ser uma reedição do comício da Central do Brasil, desta vez à direita.


Esta terça-feira, dia 7 de setembro, pode ser o ponto de não retorno. Estamos diante de um tensionamento inédito das instituições democráticas. Ou as oposições superam entraves como o da agenda econômica e dialoguem para a formação de um movimento de rua único ou o golpe triunfará. Não é hora de a esquerda ir para a rua num dia e a direita no outro. É hora de deixar diferenças de lado e apostar na unidade, como nas "Diretas Já".


Pode não dar em nada, mas também pode. A nós, resta observação e nervos de aço.

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