China e Afeganistão, por Elias Jabbour


Texto originalmente publicado no Facebook do autor.


Direto ao ponto. O fim da ocupação imperialista sobre o Afeganistão coincidiu com a conclusão de todo arcabouço industrial, tecnológico e institucional que permite a China planificar em nível superior não somente sua economia, mas também sua presença no mundo.


A Iniciativa Cinturão e Rota é, nas palavras de Javier A. Vadell Compagnucci a globalização que a China tem a oferecer ao mundo em contraposição à ditadura militar mundial imposta pelo imperialismo. Nada como o Afeganistão para demonstrar a diferença entre as "duas globalizações".


A China tem um problema de extrema dependência do mar do sul da China e do estreito de Malaka para receber e enviar mercadorias. Um governo soberano no Afeganistão é chave para a estratégia chinesa de diminuir essa dependência e mandar os EUA enfiar o QUAD no c...


A grande questão é terminar a ligação logística entre o Xinjiang e a costa do Paquistão. O Afeganistão ocupado era um entrave a este projeto. A grande questão é como os chineses irão transformar em riqueza real as reservas de lítio, ferro, cobre e nióbio do Afeganistão.


Caso se construa um ambiente político estável com o poder talibã, a China encontrará uma solução à sua questão estratégica imediata, consolidará o Xinjiang em uma região desenvolvida (um dos maiores complexos petroquímicos do mundo, em breve).


Uma grande divisão regional do trabalho de novo tipo envolvendo a China como centro dinâmico, o Afeganistão, Paquistão, Irã e Síria estará sendo viabilizada. A China trocará matéria prima desses países por bens públicos, mudando a face econômica da região por completo.


Pode se vislumbrar uma razoável queda nos custos de importação de commodities africanas. Em um ambiente desse o Brasil começará a sentir com força os efeitos negativos de suas escolhas macroeconômicas das últimas décadas. Já a Austrália poderá se tornar um pedinte mundial.


É fundamental acompanharmos com razoabilidade científica e visão de grande política os próximos acontecimentos. O Afeganistão é o epicentro de uma mudança qualitativa de forças no mundo. A China acumula forças ao embate estratégico contra o imperialismo. Biden deixou claro seu alvo.


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Elias Jabbour é economista e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ.

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