Afeganistão, por Elias Jabbour


Publicado originalmente no Facebook do autor.


A barbárie afegã não começa com a volta do Talibã ao poder após uma guerra com 200 mil mortos. Começa com a derrota da experiência socialista no país e o apoio do imperialismo ao fim de um projeto realmente civilizatório.


O socialismo afegão foi inovador ao (tentar) promover grandes reformas como a agrária e a emancipação feminina. Mas o regime não percebia que um salto nas relações de produção não era condizente com o nível das forças produtivas do país. A consciência é determinada pela matéria.


Aquela experiência foi destruída pela resistência interna da maioria do povo às reformas emancipadoras e o apoio militar e financeiro do imperialismo a grupos de políticos de caráter medieval. Com o fim da ocupação soviética a barbárie teocrática chega ao poder.


O Talibã foi tolerado enquanto não se tornou uma ameaça real ao status quo do imperialismo naquela região e quando o extremismo religioso ganhou corações e mentes diante do enfraquecimento de forças políticas socialistas no Oriente Médio. 


O ataque do 11 de setembro foi o pretexto perfeito para o imperialismo voltar a controlar as linhas de suprimento de petróleo do Iraque e bancar uma força política no Afeganistão à sua imagem e semelhança. A Talibã havia se tornado descartável.


Em questão a gestão de um território estratégico ao imperialismo no coração da Ásia Central. O projeto passava pela criação de uma "burguesia nacional" sustentada por uma base material nada estranha. Vejamos.


Os "direitos humanos" do povo afegão foi financiado por presidentes e chefes militares títeres com a missão de especializar a agricultura do Afeganistão em algo super importante para as classes médias e altas estadunidenses: as drogas. Veja o gráfico ao fim.


A produção de ópio praticamente quadruplica no país. Eis a base material tolerável aos Estados Unidos e que mantém aquele povo na Idade da Pedra há séculos. Por isso relatei aqui que a barbárie tem início com a derrubada do regime socialista no país.


O Afeganistão sob controle do Talibã terá de adequar a uma ordem internacional completamente diferente da que os levou ao poder com o fim da URSS. A Ásia não é a mesma. Rússia e China estão unidas em um grande projeto euroasiático.


Como libertar o Afeganistão do jugo de fanáticos? Não existe solução fora da elevação do grau de consciências das massas. Isso não ocorre sem expansão da divisão social do trabalho, da técnica e da especialização produtiva.


O enfraquecimento estratégico do Talibã e o surgimento de forças locais capazes de levar o país a um rumo estratégico de paz e progresso é uma tarefa geracional do povo afegão. 


O reconhecimento imediato do poder talibã por parte da Rússia e China é uma grande jogada que obrigará o Talibã a sair do bueiro das relações internacionais e assumir que o existem regras a se seguir caso eles queiram um mínimo ambiente à governabilidade.


Integrar o Afeganistão à Iniciativa Cinturão e Rota e o Projeto Eurasiático é o primeiro passo que os amantes da paz e dos direitos humanos do povo afegão devem torcer para ocorrer.


Produção de ópio no Afeganistão. Fonte: Wikipedia

Compromissos militares com a Rússia e investimentos produtivos chineses são passos fundamentais para que o país encontre uma solução aos seus impasses. Desenvolver as forças produtivas emancipa a mente. O que o imperialismo tinha a oferecer está muito claro no gráfico acima exposto". 


__________________________________________________________________

Elias Jabbour é economista e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ.

Nenhum comentário: