A parada militar de Bolsonaro ou “Del ridiculo no se vuelve” (Domingos Faustino Sarmiento), por Sérgio Batalha


Ontem (10), Bolsonaro fez mais uma de suas provocações golpistas, realizando um desfile militar em frente ao Congresso no dia em que seria votada a PEC do voto impresso.


A PEC foi derrotada por larga margem, como Bolsonaro sabia que ocorreria, e a provocação indignou grande parte da sociedade, como ele também já previa.


Na verdade, a estratégia de Bolsonaro é manter no ar a ameaça de um golpe militar, mesmo sem deter as condições objetivas para deflagrá-lo. Ele busca polarizar seu eleitorado, intimidar a oposição e, ao mesmo tempo, deixar na mesa permanentemente a opção do golpe militar, na expectativa de uma conjuntura favorável.


No entanto, ontem ele cometeu um erro. A utilização de paradas militares como instrumento de dissuasão e intimidação é velha como andar para frente. Ela exige, no entanto, que você apresente algo que assuste seus adversários.


A parada militar de ontem teve um efeito absolutamente reverso, pois a Marinha apresentou alguns poucos blindados leves, a maioria com mais de cinquenta anos de operação.


As imagens de blindados pequenos e velhos, expelindo uma fumaça negra típica de motor mal regulado, correram o país e o mundo, gerando uma infinidade de “memes” e lançando no ridículo as Forças Armadas brasileiras.


O Alto-comando das Forças Armadas certamente se constrangeu com o vexame, que expôs a falta de capacidade operacional dos militares brasileiros. Bolsonaro adora debochar da Venezuela, mas os generais sabem que o exército venezuelano tem uma capacidade operacional superior a do brasileiro, com armas e blindados modernos adquiridos da Rússia.


O saldo foi extremamente negativo para a própria ideia do golpe militar e do efeito intimidatório pretendido. Como revela a famosa frase do escritor Sarmiento: “Del ridiculo no se vuelve” ou “Do ridículo não se retorna”. 


A parada de ontem fez a proposta de golpe militar ingressar definitivamente no terreno do ridiculo, de onde se espera que não retorne. Deu também uma lição aos militares que ainda prezam sua carreira, a de que a aliança com Bolsonaro é um abraço de afogado.


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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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