Impressões ao calor da hora: a CPI da Covid joga luz na disputa no interior do condomínio de poder bolsonarista, por Daniel Samam

Nas últimas semanas o condomínio de poder vem apresentando uma disputa pesada em seu interior, causando defecções, algumas delas importantes. Para além da ala fascista, o "centrão" e os militares entraram de vez no centro da crise política e na mira da CPI da Covid em função dos escândalos em torno do esquema de propina na compra de vacinas.

O depoimento à CPI do ex-diretor de logística do ministério da Saúde, Roberto Dias revelou ao país o embate em torno de esquemas de corrupção no ministério da saúde entre dois grupos que compõem o condomínio de poder bolsonarista: o centrão de Ricardo Barros e os militares de Pazuello.

Na decisão do senador Omar Aziz em dar voz de prisão à Roberto dias pode ter havido excesso, mas também pode ter sido um movimento necessário. E, vejam, é um ponto de não retorno, pois a CPI parte pra cima do condomínio de poder bolsonarista.

Em reação e claramente combinado com Bolsonaro, o ministro da Defesa, general Braga Netto, soltou nota com assinatura dos comandantes das três forças, exército, marinha e aeronáutica, com fortes críticas à fala de Omar Aziz, que disse: 

"...os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia, porque fazia muito tempo, fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo..."

A nota diz que "As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro". Tal afirmação configura uma clara intervenção e intimidação no processo de apuração de crimes de corrupção pela CPI da Covid no Senado Federal, além de passar recibo de envolvimento. Fato tão grave quanto o tuíte do general Villas Boas, à época comandante do Exército, que pressionou o STF a não libertar Lula e impedir sua candidatura à presidência em 2018.

É preciso que toda a sociedade civil se posicione em defesa do presidente da  CPI da Covid, Omar Aziz, frente à intimidação das Forças Armadas mancomunadas com o governo fascista. O "cala boca" já morreu!