Para derrotar o fascismo à brasileira, o #ForaBolsonaro tem de ser de todos, por Daniel Samam

Em entrevista, o cientista social e atual presidente do CEBRAP, Marcos Nobre, na minha opinião um dos que fazem a melhor leitura do atual cenário, afirma que Bolsonaro está forte o suficiente para ir ao segundo turno e evitar um impeachment, mas também está fraco o suficiente para mostrar que ele luta permanentemente contra o sistema. Tenho acordo com esta avaliação e ela nos aponta uma série de elementos.

Tratar Bolsonaro como derrotado é, no mínimo, imprudente e irresponsável. O ex-capitão segue com força para conter um possível processo de impeachment e ir ao segundo turno com uma base social mobilizada que influencia em torno de ⅓ do eleitorado.

Até o final do ano, é muito possível que a população economicamente ativa esteja vacinada com as duas doses e a economia apresente indicadores melhores o suficiente para manter parte do empresariado próximo ao condomínio de poder.

No entanto, com a carestia e a partir da CPI da Covid, que revelou com provas robustas ao país a sabotagem do governo federal no combate à pandemia, abriu-se um flanco para manifestações massivas contra o governo.

A mobilização das ruas por todo o país é fundamental. Disto não há dúvida. A questão é: qual é o perfil? Certamente, o mais amplo possível. Sabemos que as manifestações de rua vão além dos militantes de partidos, movimentos sociais, centrais sindicais de esquerda reunidos nas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

Nos atos de 29 de maio teve gente de todo tipo, mas com algo em comum: todos estavam lá contra Bolsonaro. E no próximo dia 19 de junho será a mesma coisa e, ao que tudo indica e esperamos, ainda maior.

Enquanto a esquerda se encontra mais organizada, o centro e a direita não-bolsonarista permanecem ainda desarticuladas. Uma articulação da esquerda com esses pólos é decisiva para fazer frente a Bolsonaro, que recorre à retórica contra o comunismo, tentando caracterizar as manifestações contra ele como manifestações exclusivamente de esquerda. Se ele conseguir emplacar essa narrativa, já era. Portanto, o #ForaBolsonaro tem de ser uma manifestação de todo o campo democrático.

O que Bolsonaro vocifera sobre isolamento, uso de máscaras e voto impresso é só o começo da campanha política mais pesada e violenta da história. E sem essa de que as instituições estão funcionando. Afirmar isso é como fazer piquenique na beira do vulcão. As instituições estão em colapso.

As eleições de 2022 serão um plebiscito sobre democracia x fascismo. Civilização x barbárie. E como diz o ditado, pior que um crime é um erro. E nós, democratas, não temos o direito de errar nesta quadra da história, pois do outro lado está o fascismo, a barbárie da fome, da morte e da devastação.

O movimento de concertação democrática tem de se dar de baixo para cima e pelo alto. Ou seja, é a denúncia do projeto autoritário, povo nas ruas em defesa da vida, dos direitos, das liberdades e da democracia, além de articulação institucional e política com quem for contra Bolsonaro.

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