A favela tá na mira do fuzil e a “justificativa” já tá pronta no coldre: Policiais reagiram à injusta agressão", por Cristiano Lima

A prática de uma polícia combativa de caráter militar se mantém engessada em uma escala medieval: Da patrulhinha até o “caveirão”. Assim como do revólver calibre 38 ao fuzil 762, somente o que evoluiu foi a tecnologia, esta, utilizada para o enfrentamento baseado em uma política balística.

As UPP`s surgiram como forma de modificar os territórios dominados pelo poder paralelo, tornando-os atrativos, pacificados e não ameaçadores aos olhos do morador, mercado e do turismo. De forma inédita o combate bélico foi substituído por uma ocupação preanunciada nas mídias, o que provocava a saída dos criminosos que ali ocupavam, migrando para outras regiões. A ocupação pacificada, agregada aos serviços prometidos a vir a reboque das UPP`s acenderam uma luz de esperança nos moradores que começaram a vislumbrar um novo horizonte, e já se cogitava em uma nova população nascida nas favelas pós UPP.

Porém do outro lado os corpos fardados (baixas patentes) que atuavam na linha de frente na ocupação, ainda, carregavam em si os vícios e preconceitos da rotina policial, transmitindo para os novatos (soldados recém-formados) esta sensação de insegurança, hostilidade, desconfiança, medo. e principalmente preconceito, onde o dedo no gatilho é sempre a fala inicial.

Hoje presenciamos o retorno das facções em busca dos territórios e ainda o confronto entre forças paralelas (milicianos e traficantes) e intervenções policiais cada vez mais violentas.

As comunidades que, ainda, mantêm a estrutura metálica (container) ou de alvenaria com a logo UPP já não percebem em si a mesma esperança que começou a surgir no início da implantação do projeto, nem tão pouco houve uma mudança no perfil dos nascidos pós UPP`s, pelo contrário, estes novos homens e mulheres, continuam vivendo a rotina de violência vivida por seus pais e avós.

A justificativa para ações policiais violentas, em operações, ou na sua melhor interpretação, massacres, têm, sempre, como resposta por parte do Estado e de seus representantes institucionalmente armados e treinados para matar, a reação à injusta agressão, ou em uma só simplificação: O confronto. Esta é a justificativa adotada para qualquer morro ou favela, quando ela está na mira treinada de um fuzil institucionalizado, seguindo um cronograma medíocre e trágico: Operação para combater o narcotráfico e mortes.

Já nas comunidades em que os assassinatos ocorrem sem operações, a velha desculpa requentada em que os policiais foram recebidos a tiros e “apenas” reagiram a injusta agressão, desencadeando em confronto, conta com um “adendo” na sua resposta: “Policiais da UPP de X comunidade estavam fazendo patrulhamento de rotina quando se depararam com homens, fortemente armados, que dispararam contra a guarnição…” Policiais têm utilizado a imagem da UPP como justificativa para ações violentas, o resultado infelizmente são mais corpos estendidos de homens, mulheres, crianças ou idosos, que têm a mesma característica: Pretos, pobres, da favela!

A UPP que foi sinônimo de sonho, hoje, com governos impulsionadores da violência, torna-se um pesadelo, uma ameaça real. Os assassinatos, agressões ou coações, não precisam mais de uma operação pré organizada, basta um “rolezinho” de maus policiais, basta um “patrulhamento de rotina” que a justificativa já está pronta no coldre, para a barbárie nesses territórios.

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Cristiano Lima é Educador, graduando em Geografia pela UERJ/CEDERJ e Escritor.

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