A absolvição de Pazuello e o cabo de guerra do golpe, por Sérgio Batalha

Não creio que a absolvição de Pazuello pelo Comandante-geral do Exército represente uma adesão da Força ao projeto de golpe de Bolsonaro. Esta opção já foi colocada algumas vezes de forma concreta para o Alto-comando por Bolsonaro e foi sempre rechaçada. 

Ele insiste no golpe não apenas por medo de perder uma eventual eleição, mas também porque a proposta de um governo fascista só funciona em uma ditadura militar.

No entanto, a absolvição de Pazuello foi um claro recuo na disputa que Bolsonaro vem travando com os generais do Alto-comando. Quando ele percebeu que eles não adeririam espontaneamente ao golpe, passou a criar situações que pressionassem o comando das Forças Armadas, subvertendo a disciplina e a hierarquia.

A última foi o afastamento do último Comandante-geral do Exército, o general Pujol, com a intenção de escolher outro general que colocasse a Força à serviço de um golpe. Os militares reagiram e impuseram o general Paulo Sérgio, um militar distante de Bolsonaro.

Mas agora Bolsonaro envolveu um general da ativa em um ato político e disse a Paulo Sérgio que não aceitaria uma punição. Só havia duas alternativas: aplicar a punição e pedir demissão se ela fosse revogada ou aceitar a ordem de Bolsonaro e absolver Pazuello.

A primeira opção era defendida por quase todos os oficiais generais, inclusive pelo vice-presidente Mourão, mas provocaria uma crise militar imediata. A segunda adiaria a crise, mas criaria um precedente perigoso no interior das forças armadas.

Como se descobriu hoje, Paulo Sérgio recuou e permitiu que Bolsonaro puxasse o cabo de guerra, arrastando os militares para mais perto da marca do golpe. 

Todos aqueles que não querem viver sob uma ditadura militar têm a obrigação de criticar publicamente a absolvição de Pazuello, um pusilânime que se tornou refém do bolsonarismo por medo e ambição.

Só a pressão da sociedade pode manter os militares nos quartéis. Eles tem uma ideologia de direita e sonham com as benesses do poder, mas não bancam uma nova ditadura militar, um pacote que inclui repressão e massacre do próprio povo. A sociedade tem de manter a ideia do golpe marginalizada ou pagará um preço caríssimo pela sua omissão.

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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