Bolsonaro: o fascismo acuado e o golpe, por Sergio Batalha

O fascismo se assemelha frequentemente a um animal, não apenas pela sua bestialidade, mas por reagir a instintos. Bolsonaro é um típico fascista, quando acuado, reage como um animal e ataca. 

O momento atual é o mais difícil do governo Bolsonaro desde a posse. O plano do golpe foi substituído pela aliança com o Centrão, na expectativa de construir uma governabilidade que permitisse a reeleição. No entanto, o fracasso diante da pandemia isolou o governo e acelerou a erosão da sua base parlamentar, conhecida pela sua volatilidade.

Como se tudo isso não bastasse, a entrada de Lula em cena, após a anulação das condenações da Lava-Jato, tornou a perspectiva de vitória mais difícil. Bolsonaro sabe que Lula pode dialogar com as camadas populares e menos fanáticas do seu eleitorado. 

O Centrão percebeu, como sempre, a mudança na direção do vento, pressionado pela pandemia e pelo fim do apoio do setor financeiro ao governo, oficializado com a carta assinada pelos seus representantes mais expressivos. Passou a pressionar Bolsonaro no sentido do abandono de sua linha ideológica e seu líder, Arthur Lira, chegou a citar veladamente a possibilidade do impeachment.

Bolsonaro foi obrigado a demitir Ernesto Araújo, uma figura central na ideia de “guerra cultural” do bolsonarismo. A questão não é o que Ernesto fazia ou deixava de fazer, mas a perda de uma trincheira fundamental na forma de fazer política do bolsonarismo, qual seja a de ideologizar todas as questões e buscar sempre um inimigo para combater.

Acuado, Bolsonaro partiu para o ataque, afastando o Ministro da Defesa, vinculado ao Alto Comando das Forças Armadas, e o substituindo por Braga Neto, um general da reserva bolsonarista. É um flerte com a ideia do golpe e uma tentativa de mostrar força diante do cerco.

A possibilidade do golpe militar sem o apoio do Alto Comando das Forças Armadas me parece remota. Braga Neto é um general da reserva e, obviamente, não tem comando de tropas. O movimento parece mais uma tentativa um pouco desesperada de intimidar o Centrão e o próprio Alto Comando. 

O movimento pode funcionar e garantir um provisório equilíbrio de forças. Mas se ficar caracterizado como um blefe, pode acelerar a desintegração da base de apoio parlamentar e afastar os militares de Bolsonaro. 

Em resumo, parece aquela história do sujeito que saca a arma em uma briga. Se o adversário achar que ele não vai atirar, apanha com arma e tudo. A disfuncionalidade do governo Bolsonaro começa a incomodar a todos os setores, inclusive aos militares e empresários. Pode ser o princípio do fim.

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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