Manaus e a máquina de mentiras do bolsonarismo, por Sérgio Batalha

O horror da situação de Manaus fala por si e dispensa adjetivos. No entanto, mesmo diante do horror absoluto da morte de dezenas de pacientes sufocados por falta de oxigênio industrial, ainda se vê nas redes as justificativas dos bolsonaristas.

A falta de caráter não explica o fenômeno, embora esteja presente em muitos casos. Ainda há pessoas ignorantes e raivosas que acreditam em uma série de mentiras, criadas e divulgadas de forma profissional, com o objetivo de manter coesa a base de apoio de Bolsonaro.

É importante, então, entender como funciona esta verdadeira máquina de mentiras, que se utiliza de técnicas da extrema-direita americana, capaz de criar realidades paralelas como a que motivou milhares de fanáticos a atacarem o Capitólio dos Estados Unidos.

No caso do Brasil, podemos identificar duas linhas principais. A primeira é atribuir todos os problemas que surgem no país a governos anteriores ou a outros políticos. Assim, a culpa do caos em Manaus é do governador e do prefeito, “que roubaram todo o dinheiro enviado por Bolsonaro para o combate à pandemia”.

A segunda é atribuir a incapacidade de Bolsonaro de resolver esses problemas a “inimigos” como o STF, governadores, prefeitos ou outros políticos. Eles “não deixam o homem fazer nada”.

Estas mentiras são divulgadas em linguagem simples, muitas vezes sob a forma de “memes”, utilizando algumas informações e números falsos, muitas vezes citando fontes igualmente falsas (médicos, cientistas e publicações falsas ou inidôneas).

São dirigidas a pessoas obtusas e predispostas a acreditar no que leem. Assim, a desconstrução deste apoio não passa apenas pela divulgação da verdade, mas em incutir a dúvida na sua crença ideológica. 

É importante mostrar aspectos cuidadosamente ocultados do bolsonarismo, como a sua hostilidade aos direitos trabalhistas e do consumidor. Na verdade, toda a política de Paulo Guedes é impopular e criaria fendas importantes na base do bolsonarismo. Ele agrada apenas aos empresários que numericamente são uma minoria. 

Outro argumento importante é ridicularizar as teorias conspiratórias que embasam todas estas mentiras, fazendo ver ao cidadão que é impossível que todo o “sistema” esteja contra Bolsonaro e que ele não consiga realizar nada por conta de forças ocultas. Em resumo, começar a convencê-lo que ele está sendo feito de otário. 

Por fim, temos de começar a cobrar resultados concretos dos bolsonaristas, revelando que, objetivamente, o país vai de mal a pior, como ele, na verdade, já sabe. Chegará a um ponto que a maioria deles poderá ser convencida de que, certo ou errado, Bolsonaro fracassou como presidente. 

É o momento de aumentar a pressão nas redes e buscar o desgaste do governo em cada episódio, como a saída da Ford do país ou o fechamento das agências do Banco do Brasil, com a perda de milhares de empregos. Ousar lutar, ousar vencer! Fora Bolsonaro! Impeachment já!

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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