A derrota de Bolsonaro na batalha da vacina, por Sérgio Batalha

Publicado originalmente no Facebook do autor.

A estratégia da extrema-direita é ideologizar o debate de qualquer tema, seja ele econômico ou de saúde pública. É uma forma de manter coesa sua base vinculando fatos a debates ideológicos muitas vezes absurdos, como a natureza “comunista” do vírus ou da vacina desenvolvida na China.

Assim, Bolsonaro seguiu a cartilha de Trump e tentou vincular a prevenção da pandemia e seus inevitáveis reflexos sobre a economia a alguma espécie de “conspiração comunista” contra o seu governo. Na questão da vacina seguiu a mesma lógica, desarticulando a produção e planejamento de uma campanha de vacinação.

A estratégia de ideologizar todas as questões da esfera pública sob a ótica da extrema-direita é sustentada por uma máquina profissional de divulgação de informações falsas. É bastante eficiente, mas às vezes bate de frente com a realidade da vida.

A pandemia custou a eleição de Trump e Bolsonaro equivocadamente não mudou o roteiro originalmente programado para o tema, ao contrário de Boris Johnson no Reino Unido. 

Não se varre para baixo do tapete a morte de mais de duzentas mil pessoas e, pior, quando desdenhou da possibilidade de controlar a pandemia por meio da vacina, Bolsonaro conseguiu desagradar até mesmo parte de sua base eleitoral.

Posteriormente, teve de mudar de posição subitamente, premido provavelmente por uma perda de popularidade que será sentida nas próximas pesquisas. O desfecho da “batalha da vacina” foi ainda pior do que se anunciava, ante a insistência idiota de Bolsonaro de dobrar sempre a aposta, mesmo quando o cenário é totalmente desfavorável.

O episódio custará caro a Bolsonaro, pois sua popularidade caiu e a sombra do impeachment voltou a ameaçar o seu governo. Serve como alento à oposição, revelando que ele não é invencível, nem os 35% de apoio são inamovíveis.

O caminho para o impeachment ou para a vitória eleitoral em 2022 é longo e sujeito a percalços. Mas a fragorosa derrota de Bolsonaro na “batalha da vacina” indica que a melhor arma contra ele ainda são os fatos e suas consequências para o cotidiano do cidadão, ao invés das armadilhas do debate ideológico que a extrema-direita propõe a todo momento.

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Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho, além de conselheiro e presidente da Comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ.

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