O golpe e a serpente de duas cabeças, por Cristiano Lima

É inegável o golpe de 2016, sua intenção foi orquestrada não somente para retirar o PT da presidência do Brasil, mas estereotipar o partido na figura de corrupto.

Seus protagonistas do meio político, a clássica direita, já apostavam na polarização, contudo sem contar com o extremismo que estava do seu lado. Naquele momento, talvez ou certamente, ignoravam ou subestimavam a presença do ovo da serpente que estava ali, o tempo todo, aguardando por uma chocadeira.

Como sabido o resultado da orquestração não saiu exatamente como seus protagonistas pretendiam, em 2018, após dois anos de usurpação, a direita recebeu estilhaços do seu tiro disparado contra a democracia. Foi alcunhada, também, de corrupta, de velha política e o ovo eclodiu a serpente com 2 cabeças: Uma neoliberal e a outra com ideais fascistas, extremistas que literalmente batia e bate cabeça com a primeira, apesar de atender aos interesses neoliberais.

As eleições de 2020, quatro anos após o golpe tinham um grande desafio, derrotar o bolsonarismo, este era o primeiro ponto, o segundo ponto era a reconstrução do País a partir de seus municípios, com prefeitas e prefeitos da esquerda.

O cenário desenhado após o resultado das eleições é bastante assustador, quase ou tanto quanto a aberração chocada em 2018. Antes de descrever este cenário quero lembrar que o voto é mais que um direito, mas um dever, um exercício que vem fortalecer a democracia.

O índice de abstenção nestas eleições foram imensos, se tomarmos as cidades do Rio e São Paulo podemos perceber um fato mais que curioso: Assustador e preocupante!

No Rio, onde a disputa no segundo turno se deu entre Eduardo Paes do DEM, 1.629.319 votos, e Crivella do Republicanos, 913.700 votos, este segundo apoiado por Bolsonaro, o índice de abstenção, 1.720.154, foi maior que o número de votos que Eduardo Paes (eleito) recebeu.

Na cidade de São Paulo a disputa foi entre Covas PSDB, 3.169.121 votos  (eleito) e Guilherme Boulos do PSOL, 2.168.109 votos. Nesse cenário o número de abstenções, 2.769.179, foi maior que o número de votos recebidos por Guilherme Boulos.

Poderia aqui citar o domingo ensolarado, a pandemia como justificativas De fato, podem até serem apontadas como causas, ainda mais por conta da pandemia! Mas, me atrevo a dizer que não são as únicas causas, e talvez nem as mais relevantes para o número excessivo de ausências.

Volto aqui a falar do golpe de 2016. Sim, ele não deve ser esquecido, jamais! A criminalização da esquerda, em especial ao Partido dos Trabalhadores, atingiu também à política, ou seja, o processo eleitoral, levou a muitas pessoas desistirem de exercer este direito tão importante. O negacionismo, uma das características do bolsonarismo teve suas raízes fortalecidas com o golpe, este negacionismo não está somente na ciência, mas também na própria política, no descrédito do povo diante da política. Isto é preocupante! O golpe não foi somente contra o PT, mas contra a democracia, contra a esperança.

Hoje, a luta é derrotar a serpente, porém, com suas duas cabeças.

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Cristiano Lima é Educador, graduando em Geografia pela UERJ/CEDERJ e Escritor.

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