Os bestializados do século XXI: maioria do Rio está alheia às mudanças nas estruturas do poder político, por Bruno Sobral

Hoje se ganha eleição no Rio sem precisar das forças associadas aos partidos de esquerda. Isso fica evidente ao observar que Eduardo Paes obteve 974.804 votos no 1º turno, e Crivella obteve 894.189 votos no 2º turno. Ou seja, com os votos que Eduardo Paes possuía no 1º turno já ganharia a eleição no 2º turno, sem precisar da transferência dos votos das demais candidaturas. O dito "voto útil" se mostrou inútil, não fez diferença. 

A despeito disso, o que mais se observa é essas forças progressistas acreditarem numa força eleitoral que hoje, mesmo em unidade, não possuem na região. Contudo, ao invés de ficar claro a necessidade de ampliar suas bases, colocam mais energia em disputas de purismo ideológico dentro do mesmo campo. 

Essa prioridade passa ao largo do que a população se identifica. No 2º turno, quase metade do eleitorado carioca renunciou a escolher o prefeito do Rio (brancos, nulos e abstenções). Só de abstenções, ou seja, pessoas que nem foram votar, o saldo já é um valor maior que obtido para eleger Eduardo Paes. 

Creio esse ser o principal problema do momento atual da democracia no Brasil e, em especial, no Rio. Um enorme déficit de representatividade. Uma governabilidade que é obtida não pela legitimidade do voto, mas no que for preciso fazer para não ser derrubado por qualquer perda de maioria parlamentar. E mais, a apatia que a população reage ao papel da política e encara o rito do voto com cada vez mais desinteresse. 

Ousaria dizer, ao menos no caso do Rio, que o problema não é a força dos adversários políticos de um projeto progressista, o problema é não haver esse projeto contagiando de esperança a população. Na eleição recente, não se perdeu para ninguém e um projeto, perdeu-se para a apatia das grandes massas que é a grande vencedora. 

Se um dia se quiser dar prioridade para as eleições no Rio se buscando realmente ganhar, é preciso repensar como superar isso. Especificamente, oferecer uma proposta de gestão inovadora e que mostre credibilidade, e com alto poder de comunicação com grandes massas (e não só minorias).

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Bruno Sobral é Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ.

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