Moro: o herói tem pés de barro, por Yagoo Moura


Há 2 meses lembro de uma conversa que tive com o ex-ministro José Dirceu e de tê-lo ouvido relatar algumas das arbitrariedades às quais ele foi submetido por Sérgio Moro, quando este era juiz em Curitiba. Até a dosimetria da pena era calculada visando impedir a progressão de regime. Isso não foi exceção, era o modus operandi da chamada "República de Curitiba".

A Operação Lava Jato se notabilizou por fazer do processo judicial um espetáculo político. Foram várias arbitrariedades cometidas em série: banalização das conduções coercitivas, uso da prisão preventiva como mecanismo de tortura psicológica para arrancar confissões dos réus, grampos ilegais com posteriores vazamentos para a imprensa (sendo a conversa da então presidenta Dilma com Lula o caso mais simbólico) e outros absurdos. 

As reportagens do The Intercept são prova cabal de tudo isso. Princípios éticos como a impessoalidade do magistrado foram mandados às favas quando Moro assessorou e orientou a acusação contra Lula, fazendo do trâmite usual de um processo um jogo de cartas marcadas. 

Com o apoio da grande imprensa, que agora parece amedrontada frente aos arroubos autoritários cotidianos do presidente fascista, foram corroídos os pilares de um Estado de Direito. O lawfare, uso da justiça para fins políticos, solapou as bases da nossa frágil democracia. Dilma foi deposta sem crime de responsabilidade, Lula foi condenado e preso sem provas e as eleições de 2018 se transformaram em uma farsa.

Todo esse estrago veio pelas mãos de homens como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, dois apedeutas sem a mínima estatura moral e intelectual para os cargos que ocupavam. Se tornaram ídolos de uma classe média imbecilizada e feita de tropa de choque das nossas elites com mentalidade escravocrata. Dois cafonas alçados ao posto de paladinos da moralidade sob os aplausos de uma vasta claque, incapaz de quaisquer conexões neuronais.

O fato é que o lavajatismo pariu o bolsonarismo. Sem a farsa que foi a Lava Jato e a atuação criminosa de Moro e Deltan, as bases da Nova República não teriam sido implodidas. 

Com a demissão de Moro, a coalizão do neofascismo brasileiro está rachada. O ex-juiz e até ontem ministro tenta se dissociar do chefe que dá sinais de decadência. Ensaia vôo próprio, rumo a 2022. Conta com o apoio da Globo, sua agência de publicidade própria, para escamotear da opinião pública sua anuência servil aos desmandos de um governo que, se investigado, terminará com boa parte de seus membros, inclusive figuras da prole do presidente, na cadeia. 

Cabe a nós uma tarefa: desmascarar Moro e mostrar que a única diferença entre ele e Bolsonaro é que ele sabe comer com garfo e faca. Além de, obviamente, criar as condições para o #ForaBolsonaro, pois com este governo, não há como enfrentar a pandemia e suas consequências.
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Yagoo Moura é graduando em ciências sociais.

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