Pobreza de Espírito Camuflada de Honra, por Paulo Branco Filho


Atrasado, mas em tempo, pois o governo, seus representantes e a pobreza de espírito permanecem vigentes.

Citando Rui Barbosa, o general Villas Boas twittou: 
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”. Concluindo ele diz que “é preciso manter a energia que nos move em direção à paz social, sob pena de que o povo brasileiro venha a cair outra vez no desalento e na eventual convulsão social”.
Se lêssemos somente a parte em que ele cita Rui Barbosa, poderíamos crer que era uma referência ao governo Bolsonaro. Vai que o general estivesse tendo um lampejo de lucidez, estimulado por uma crise de consciência. Afinal, é sugestivo o pensamento quando recordamos o laranjal do PSL, o nepotismo do presidente ao tentar emplacar o filho como embaixador ou sobre o uso de fake News durante a campanha presidencial de 2018.

Mas não. O general ainda é o mesmo. Ele, que esteve por 10 dias internado, mais uma vez, através das redes sociais, tentou intimidar o STF. Tudo isso porque o Tribunal votaria a legalidade da prisão em segunda instância, o que poderia influenciar a prisão do ex-presidente Lula.

Não é a primeira vez que ele se manifesta quando se trata de decisões do STF que afetam direta ou indiretamente Lula. A primeira foi em 2018, às vésperas do julgamento de habeas corpus do ex-presidente, quando ele escreveu:

“Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem do repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.

A ameaça de um general a um dos poderes é algo inaceitável em uma democracia. Intimidar o STF com intuito de pressionar a manutenção da prisão de Lula é de uma canalhice sem precedentes.  

O general que fala em honra não se envergonha de participar de um governo entreguista, repleto de casos obscuros? Antes de blasfemar o general deveria responder que paz social é essa, quando o que se vê são os índices de desemprego e miséria aumentando, enquanto o governo fala exclusivamente em cortes. Como ousa falar em democracia quando ele, representante de um dos poderes, intimida outro poder?

Villas Boas abusa de impropérios e devaneios falaciosos para encobrir seu espírito corporativista e antidemocrático.

Depois de 21 anos de ditatura militar - repleta de censura, corrupção, mortes e retrocessos - o senhor deveria trabalhar pelo bem do Brasil, e em silêncio. Seu dever era repudiar e não fazer parte de um governo representado por um sujeito vil, que tem como inspiração um torturador. Sim, um torturador. Bolsonaro não cita um pensador, poeta, filósofo, líder político ou qualquer sujeito que exprima algo esperançoso, grandioso. Limita-se a uma figura que ficou conhecida pela tortura.

O general, que há muito não está bem de saúde, deveria se incomodar menos com a possibilidade de libertarem Lula. Se fosse para se preocupar, que fosse com a milícia que frequenta quadros ligados ao governo ou com tantos outros problemas graves que o país enfrenta.

Mas ao que parece a pobreza de espírito é tão grande que a única coisa capaz de revigora-lo é a possível libertação de Lula.

Nesses casos a natureza é exata e implacável: quem se mantém na escuridão, em conluio com figuras torpes como a do atual presidente, naturalmente se incomodará com a justiça e a liberdade de figuras virtuosas.
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Paulo Branco Filho é professor de artes marciais e cronista.

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