Guadalupe não é um caso isolado, por Cristiano Lima


O fuzilamento em Guadalupe, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, por militares, onde um homem foi assassinado traz à tona, mais uma vez, uma singularidade triste característica dos morros, favelas e da população preta: a violência e o preconceito.

Uma população criminalizada por conta de sua raça  e origem que julgada pelo senso comum de uma sociedade racista sente na pele o açoite que lei áurea alguma até os dias de hoje conseguiu acabar.

Tentar classificar o fuzilamento em Guadalupe como tragédia, fato isolado, é desconsiderar e desrespeitar a dor de tantos outros familiares que perderam seus entes queridos em verdadeiras ações  de extermínio.

A investigação sobre o fuzilamento, ficará  a cargo do próprio exército. Uma lei sancionada por Michel Temer em 2017 diz que crimes dolosos contra a vida  praticados por militares das Forças Armadas serão investidos pela Justiça Militar da União.

O dia 28 de Novembro de 2015, data que era de comemoração e alegria para um grupo de cinco amigos, todos pretos, oriundos de famílias pobres que se reuniram para festejar o primeiro emprego do amigo Roberto, que faria 18 anos em Dezembro foi interrompido.

Os cinco jovens foram brutalmente massacrados dentro do carro em que estavam. Mais de 100 tiros foram disparados contra os rapazes. Até  que ponto pretos e moradores de morros e favelas vão ter seus direitos negados e o medo em exercê-los?

A chave que o Estado muitas vezes usa na porta do morador de favela é a sola do coturno, o direito de ir e vir está fora das imediações ou interior da favela e ainda conta com a cor de pele.

As perspectivas com o resultado das eleições de 2018 em nada favorecem as camadas mais empobrecidas. Em particular o Estado do Rio de Janeiro se encontra sob a mira do “justiceirismo”.

Os casos de violência e violação de direitos humanos ocorridos em ações policiais nos morros e favelas ganham, agora, um novo ator, tiros disparados a partir de helicópteros em direção ao solo caracterizado pelo descaso social parecem fazer parte da rotina nas incursões.

Mas o arsenal contra a pobreza não  para por ai. A proposta do ex juiz e agora Ministro da Justiça,  Sérgio Moro, do pacote anticrime pode ser considerado como uma ressalva para matarem casos de abordagens, incursões policiais.A justificativa de estar sob “forte emoção “ pode se tornar álibi para se esquivar da justiça  e saciar o desejo de matar.

Ser preto e favelado no Brasil é  já nascer com corrente nos pés e um alvo na cabeça.
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Cristiano Lima é Educador, graduando em Geografia pela UERJ/CEDERJ e Escritor.

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