Por trás da crise da Venezuela, por Val Carvalho

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De certo modo o processo da Revolução Bolivariana, liderada por Chávez, fez um caminho inverso ao da Revolução Democrática brasileira, liderada por Lula. Nos 13 anos de governo petista soubemos aproveitar o superávit da balança comercial para impulsionar a economia, coisa que Chávez não fez na no tempo em que a Venezuela era favorecida com o alto preço do petróleo. Não criou um grande e diversificado parque industrial e, como sempre foi na história desse país, continuou importando a maioria dos bens de consumo, especialmente dos Estados Unidos.

Quando o governo imperialista impôs as sanções, visando derrubar o governo nacionalista e recuperar o controle do petróleo, a crise de consumo se estabeleceu e, aliada ao boicote do comércio e da indústria local, gerou desabastecimento, fome, migração e aumento da criminalidade, afastando a classe média e até mesmo setores populares menos conscientes do governo Maduro.

Mas em sua época Chávez soube transformar o grande apoio eleitoral do povo em educação política e a organização social combativa, criando até mesmo a grande milícia popular bolivariana. É esse fator subjetivo que está segurando o governo Maduro diante da fortíssima ofensiva intervencionista de Trump e de seus satélites latino-americanos, inclusive o Brasil de Bolsonaro.

No processo brasileiro o PT não fez como Chávez, não soube converter o apoio eleitoral a Lula em consciência política e organização popular, em força capaz de defender as conquistas e de resistir a qualquer tentativa de golpe de Estado. Assim, quando os efeitos da crise econômica internacional atingiram com força o Brasil, equivalendo às sanções imperialistas do caso venezuelano, a grande mídia golpista soube explorar muito bem a insatisfação do povo para jogá-lo contra Dilma. Contra isso o governo Dilma não contava com o apoio consciente e organizado do povo para impedir o impeachment. E dois anos depois também o PT não tinha essa força organizada do povo para impedir a prisão de Lula, a cassação de sua candidatura e a vitória eleitoral do fascista Bolsonaro.

Venezuela de Chávez e Brasil de Lula, diferenças significativas, mas a mesma e trágica semelhança: a incansável ofensiva do Império americano para derrubar governos progressistas e soberanos na América Latina e fazer novamente desse imenso continente, por meio de governos lacaios e entreguistas, o seu quintal privativo.
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Val Carvalho é militante histórico do Partido dos Trabalhadores.

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