Fim de semana em Guarujá, por Maria Luiza Franco Busse


Pegue sua família, não esqueça a bóia, o baldinho, a barraca, o isopor e a cadeirinha, e rume para o Guarujá. A praia é nossa, dizendo melhor, o triplex é nosso. Se o apartamento é do Lula e ele disse para a gente usar, então, partiu Guarujá. Só que não. A peça jurídica que encarcerou o presidente Lula, forma atualizada do método medieval de cortar a língua, pode ser considerada uma versão do conto de ficção cientifica Minority Report , levado ao cinema em 2002 por Steven Spielberg e protagonizado por Tom Cruise.

A história se passa no ano de 2054, em Washington d.c., onde é criado o Departamento de policia especializada em pré-crime, órgão privado de defesa dos cidadãos da capital estadunidense. Ou seja: a pessoa pré-criminosa é confinada numa prisão por um crime que não cometeu, mas efetivamente cometerá, e o que virá a ser cometido é descoberto por agentes públicos dotados do poder da vidência.

“Trabalhamos alterando o destino das pessoas, parecemos sacerdotes e não, policiais”; “a ciência roubou a maioria dos milagres (...), mas nos dá a esperança do divino”, são algumas das falas do filme e definem o departamento pré-crime que a cada dia quer provar a eficácia do sistema para ser implantado em todo o território nacional.

No Brasil, Minority Report recebeu o título A Nova Lei. Pertinente, porque trabalha à margem e à revelia de toda a legislação vigente e conhecida. O juiz e os agentes do Ministério Público Federal de Curitiba encarregados da infame prisão do presidente Lula não têm o talento de Tom Cruise, dos roteiristas Philip K. Dick, Scott Frank e John Cohen e muito menos de Steven Spielberg. Mas têm muita convicção. Por isso protagonizam e assinam a arquitetura da destruição do Brasil.

No site da revista Veja, um dos pilares da violência antidemocrática, a matéria sobre a ocupação do apartamento do Guarujá pelo MTST, publicada dia 16 de abril, diz que Sergio Moro "não condenou Lula por possuir formalmente o imóvel, considerando que, apesar deste ainda estar em nome da empreiteira, foi prometido ao petista e reformado ao seu gosto, para possível transferência posterior". 

Ah, como acaba o filme?!? Não vou contar porque é spoiler, mas adianto que dá ruim para eles, e isso só acontece porque os protagonistas não desistiram de lutar.


Maria Luiza Franco Busse é Jornalista e Semióloga. Graduada em História pela Universidade Gama Filho, mestre em semiologia pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com pesquisa sobre texto jornalístico e cultura de massa, doutora em semiologia pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com tese sobre a China, e pós-doutoranda em Comunicação e Cultura pelo programa de pós-graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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