Por que Lula não deve desistir, por Isabel Lustosa
Publicado em sua coluna no Brasil 247.
Em Honduras, o candidato progressista que estava ganhando levou um chapéu durante a contagem de votos e perdeu. No Equador, o sucessor de Correa, para o qual ele fez campanha, mal assumiu, começou um processo de desmontagem de tudo que Correa havia construído durante o seu governo e passou a persegui-lo. No Chile, o Banco Mundial publicou dados falsos sobre a economia influíndo na derrota de Bachelet.
Para qualquer lado que se olhe, as esquerdas estão sendo derrotadas por meio de golpes baixos.
O uso do aparato judicial para neutralizar os governantes e ex-governantes progressistas está em curso em toda parte: Argentina, Peru, Equador, Bolívia, etc.
Não tem refresco.
É ingênuo acreditar ainda, a essa altura do campeonato, que as eleições no Brasil correrão normalmente e que, ganhando um candidato de oposição ao atual governo, ele vai assumir e terá condições de por as coisas em ordem.
O conjunto de forças que se uniram no Brasil para impedir que isto seja possível tem condições não só de inviabilizar candidaturas do campo progressista como a do ex-governador da Bahia ou do ex-prefeito de São Paulo, por meio de crimes inventados e ações ostensivas da PF como para, em último caso, impedir que haja eleições.
Em havendo eleições sem um candidato de oposição que chegue ao segundo turno, com a abstenção que disso resultará, não será problema para a turma do golpe entronizar no poder o eleito pouco representativo.
Até porque um absolutamente não representativo nos governa hoje e ninguém - pelo menos do mercado - está reclamando.
Por isso seus candidatos não estão nem aí para a propaganda junto ao eleitorado.
O eleitorado que conta para eles e que vai financiar suas campanhas quer é reforma da previdência, congelamento de gastos públicos, terceirização, venda da Petrobrás, privatização do BB e da Caixa, etc e etc.
Basta ler os jornais para ver as promessas que Alckmin, Meirelles e até o Bolsonaro estão fazendo nessa direção.
Por isso a resistência de Lula é essencial.
Na hora em que ele indicar alguém, ele perde força e divide ainda mais o já dividido campo progressista. Se apoiar Ciro que tem acenado com simpatia para a Lava Jato, corre até o risco de ser preso depois de elegê-lo.
Se apoiar Boulos ou Manuela, seu apoio também perderá força porque PCdoB e PSOL nunca se entenderam.
Que as outras candidaturas do campo progressistas continuem em campanha.
Lula deu apoio a Boulos e a Manuela.
Teria apoiado também a Ciro, se ele não tivesse preferido aceitar o veredicto da lava jato como justo.
Lula não pediu a ninguém para retirar candidatura.
Porque ele sabe que quanto mais vozes se manifestando contra o que está acontecendo no país, mais consciente a população pode ficar.
E a campanha eleitoral, como se sabe, é o único momento em que se ouvem dircursos dissonantes ao que veicula a grande mídia.
Ficando e denunciando ao mundo a perseguição injusta que sofre, Lula é a única voz forte, verdadeira e dissonante capaz de ser ouvida em toda parte.
Ele é a principal força viva da resistência à farsa da institucionalidade que estamos vivendo e continuaremos a viver: com executivo, legislativo e judiciário unidos e funcionando "normalmente".
Lula será forte enquanto for candidato contra tudo e contra todos, amparado pela força do povo.
Sua candidatura é a maior denúncia possível do golpe que o Brasil está vivendo.
Enquanto puder resistir, ele resistirá e, no final, como sempre, nos surpreenderá.
Isabel Lustosa é pesquisadora e historiadora da Fundação de Rui Barbosa.
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