A tigrada de toga, por Sérgio Batalha


Na época da ditadura militar o grupo de militares que apoiava e praticava torturas e assassinatos era conhecido como a “tigrada”, fazendo alusão ao tigres pela sua ferocidade. Mais de trinta anos após a ditadura militar, não por acaso durante novo período de exceção, surge a figura da “tigrada de toga”. São juízes e desembargadores que defendem medidas de exceção e usam suas funções ativamente para perseguir políticos progressistas.

A declaração da Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), Marília Neves, atribuindo o assassinato da Vereadora Marielle Franco ao Comando Vermelho (CV), com a justificativa de que ela teria sido eleita pela facção e descumprido alguns compromissos, é simplesmente inaceitável. 

Além de mentirosa, pois Marielle teve pouco mais de 1.600 votos na Maré (a maioria dos seus mais de 46 mil votos vieram da Zona Sul), a acusação tem uma intenção clara de caluniar a memória da ativista política, vinculando-a ao crime organizado. 

A Desembargadora conclui seu “post” afirmando que dar outra explicação para o crime seria “mimimi da esquerda”, usando uma frase clássica dos fascistas nas redes sociais. Quando uma Desembargadora calunia nas redes sociais uma vítima notória de um crime político, é evidente que uma parcela do Judiciário está fora de controle.

Há milhares de juízes que pensam diferente, como a juíza Raquel Braga (que concedeu entrevista sobre a execução de Marielle), e eles têm de se manifestar, sob pena do seu silêncio macular a honra de toda a corporação, como ocorreu com os militares durante a ditadura.


Sérgio Batalha é advogado trabalhista e Diretor do Sindicato dos Advogados.

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