A retomada da Economia pela pipoca, por José Luis Fevereiro

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Acabei de ver no programa Gnews Economia o economista José Márcio Camargo dizer que o aumento do trabalho informal é a prova da retomada da economia. Segundo ele, dando como exemplo o vendedor de pipoca na esquina, o fato de mais gente estar “vendendo pipoca” é sinal que a demanda por pipoca aumentou. “Se a demanda não existisse o vendedor de pipoca não sairia de casa para vender pipoca”. Logo , isso seria um sintoma de que a economia esta reagindo.

Por essa logica como diz ironicamente meu amigo Leonardo Guimarães, "há também mais pedintes na rua. Sinal que a economia está voltando a crescer porque há obviamente um aumento na oferta de esmolas".

É inacreditável que a estas alturas da vida portadores de diploma universitário reproduzam tal platitude impunemente. No mundo maravilhoso de José Márcio Camargo, o vendedor de pipoca da esquina tem a opção de avaliar pela manha os indicadores econômicos, receber do seu consultor um relatório sobre o estado da demanda por pipoca e então decidir se vai para a esquina com seu carrinho ou se por falta de demanda marca com seus amigos uma partida de golfe.

Para o referido economista essa opção é determinada por condicionantes apenas ligadas á avaliação racional do tamanho do mercado. Variáveis como a absoluta falta de alternativa para ter alguma renda, o desespero do desemprego que faz com que seja melhor dividir um mercado de pipoca do mesmo tamanho com outros vendedores já instalados na praça , resultando daí menor renda para cada um deles já que mais ofertantes disputarão uma mesma demanda do produto, são desconsiderados.

Comparar as decisões de grandes corporações que ao entrarem em um mercado o fazem a partir de avaliações de resultado, de tamanho potencial de sua inserção no mercado (market share), com as decisões individuais de um pai de família desempregado tangido entre as opções de não fazer nada, e não ter acesso a qualquer renda, ou fazer qualquer coisa que lhe dê alguma renda, mesmo que insuficiente, é desonestidade intelectual.

O crescimento do trabalho ”por conta própria” não espelha retomada da economia nem ampliação da demanda, mas a divisão do mesmo mercado por mais ofertantes de serviços, com redução de renda per capita para todos. Reflete o desespero dos que já esgotaram a sua capacidade de esperar um emprego formal e foram obrigados a fazer qualquer coisa para acessar qualquer renda possível. No mundo real é assim.

Imagino o desespero do meu amigo Adhemar Mineiro, economista do DIEESE também entrevistado , por não ter mais tempo de responder ao José Márcio Camargo visto que esta platitude foi a ultima fala do programa.

Deve ter lhe estragado a Semana Santa.


José Luis Fevereiro é Economista e membro da direção nacional do PSOL.

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