Pitacos acerca da intervenção militar no Rio, por Daniel Samam

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- Foi uma manobra irresponsável e arriscada do consórcio golpista. Os próprios militares se mostraram preocupados pela forma com a qual o governo de plantão anunciou a intervenção, sem planejamento prévio. Os próprios militares sabem que não podem nem lhes cabe resolver o problema da insegurança pública. Os exemplos do México e da Colômbia já deveriam ter nos ensinado que quando as forças armadas assumem poder de polícia, a chance de não conseguirem resolver a situação, se degradarem institucionalmente e se corromperem é grande.

- A intervenção federal me parece um movimento do consórcio golpista para distensionar o centro-conservador, desviando o foco da derrota retumbante da reforma da Previdência e para a criação do Ministério da Segurança, cujo objetivo é colocar a Operação Lava Jato no cabresto.

- No plano eleitoral, com a intervenção, Temer apresentou uma resposta popular à pauta da segurança pública, onde Jair Messias Bolsonaro reinava soberano. Afinal, parte importante da população adere ao discurso senso comum e conservador que é preciso combater o crime organizado com armas e que as forças armadas seriam as únicas com potencial moral para cumprir tal tarefa. Agora, Temer e o centro-conservador dão um “chega pra lá” no brucutu e abrem caminho para uma candidatura de centro-direita, reacionária, porém legalista. Como bem definiu o sociólogo Luiz Eduardo Soares, "uma espécie de bolsonarismo sem Bolsonaro".

- Uma manobra dessas jamais seria feita sem conhecimento e apoio da grande mídia, em especial a Rede Globo. Ao criar o clima de caos, insegurança e terror ao mesmo tempo em que culpabiliza criminaliza diretamente a política, a Globo, por outro lado, também contribui para criar na sociedade, principalmente na classe média, o discurso da necessidade do "novo na política", do "outsider", nome que FHC está empenhado em emplacar como a salvação para o país.

- Retorno ao memorável e didático desfile da vice-campeã G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti, responsável por acender a luz amarela do consórcio golpista por conta da narrativa da dominação e da retirada de direitos.

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