Colocando a intervenção militar no divã, por Val Carvalho

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Se fecharmos o foco da análise no motivo alegado, veremos que é mais do mesmo e será novo fracasso em garantir a segurança pública, mas certamente um êxito em aumentar a violência contra as comunidades populares. Os governos só mexem na segurança pública quando a violência atinge a classe média e os turistas, como foi durante o Carnaval. Já a violência policial sistemática contra as comunidades pobres, esta, é “imexível”.

Portanto, para repetir o de sempre e para um prazo tão longo, até depois das eleições (primeiro indício do objetivo real), o motivo de “garantir a segurança pública” não é muito convincente. Agora, se abrirmos o foco da análise, abrangendo a conjuntura política nacional e o complicado ano eleitoral que se inicia, começamos a ver um pouco de luz, ou melhor, de alguma lógica nessa decisão de Temer, muito provavelmente nascida da cabeça do seu ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general linha-dura Etchegoyen, um entusiasta da reforma da Previdência e grande defensor da radicalização do golpe contra a democracia.

Certamente esse general e o governador do Rio, Moreira Franco, (Ops! um ato falho), digo, o “governador” Pezão, combinaram dois interesses: o de fingir segurança para a classe média; e o de ocupar Rio de Janeiro para o caso de ser necessário um golpe militar em consequência do fator Lula nas eleições.

Mas (e sempre tem um “mas”), no item segurança pública, o desgaste do Exército será crescente, como das outras vezes. E isso por uma razão simples: não se combate a criminalidade, principalmente a da rua, com tanques e soldados armados com fuzil. Com certeza a criminalidade continuará igual ou maior, envolvendo inclusive militares. Por causa disso e do evidente desvio de função das Forças Armadas, as críticas à intervenção militar aumentarão, até de setores do próprio Exército.


Val Carvalho é militante histórico do Partido dos Trabalhadores (PT).

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