Lula x Bolsonaro: o segundo turno antecipado, por Sérgio Batalha


Há mais de um ano as pesquisas eleitorais cravam um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Ocorreram algumas oscilações em relação a Bolsonaro, que chegou a cair para pouco mais de vinte por cento, mas hoje recuperou seu patamar de cerca de trinta por cento. Lula sempre esteve na faixa de 40%, considerando-se a média das pesquisas.


Faltam pouco mais de quatro meses para as eleições e não há tempo ou espaço para surpresas. O eleitor conhece bem os quatro primeiros colocados nas pesquisas, sendo que, na mais recente do Ipespe, Lula tinha 44%, Bolsonaro 32%, Ciro 8% e Dória apenas 3%.


A tendência é que este quadro se mantenha mais um pouco, porém quando chegarmos em agosto, com o início oficial das campanhas, a tendência é que Ciro e Dória percam parte dos votos para Lula e Bolsonaro. O eleitor brasileiro não tem o hábito de marcar posição com um voto simbólico, ele gosta de decidir a eleição com o voto em quem tem efetivamente chances de ganhar.


Provavelmente, os votos de Ciro e Doria vão se dividir entre os dois primeiros colocados, com uma parcela maior para Lula, que tem um índice de rejeição menor e é o favorito.


Assim, há uma grande chance da eleição se decidir no primeiro turno, pois nas eleições são computados apenas os votos válidos, o que faria com que um candidato com 45 ou 46% do total de votos pudesse superar a maioria absoluta dos votos válidos.


Uma eventual vitória de Lula no primeiro turno tornaria mais improvável a hipótese do golpe que Bolsonaro vem efetivamente preparando. Não tenho dúvidas que ele vai tentar se manter no poder pela força, a questão é se ele terá condições de ser bem sucedido.


Todo golpe militar tem um forte componente político, com a necessidade de apoio popular, empresarial e internacional. Uma vitória de Lula no primeiro turno, juntamente com a eleição de novos governadores e um novo Congresso, seria bem mais difícil de ser contestada.


Já um segundo turno entre Lula e Bolsonaro traria uma confrontação capaz de ensejar o golpe, até mesmo para impedir a realização do segundo turno ou para contestar seus resultados.


Em uma situação normal, o voto em um candidato para marcar uma posição é válido e faz parte da democracia. Mas quando o próprio sistema democrático está sob forte ameaça, temos de cerrar fileiras na única opção para derrotar Bolsonaro. O segundo turno será em outubro e Lula é o candidato da democracia.


___________________________________________________


Sérgio Batalha é advogado, professor universitário, especialista em relações de trabalho.

Nenhum comentário: