Cuidado nas Redes, por Breno Altman

Publicado em seu perfil no Facebook.

Durante a campanha eleitoral de Donald Trump, veio a público uma série de técnicas para manipulação de redes sociais.

Em certa medida, essas técnicas reproduzem velhos métodos de infiltração e provocação desenvolvidos em outras épocas. 

A grande questão, para os estrategistas do atual presidente do EUA, era como furar o sistema de bolhas e chegar nos eleitores tradicionalmente democratas, uma dificuldade agravada pelo discurso extremista do candidato republicano. 

Amadureceram, então, uma orientação com três medidas fundamentais:

1. Recrutar pessoas com razoável grau de formação e instruí-las a intervir nas redes como se fossem democratas, de tal maneira que estabelecessem conexões e amizades dentro do campo adversário. 

2. Conquistado algum grau de confiança, a partir de técnicas antigas de manipulação e animação, esses infiltrados deveriam começar a questionar lideranças e parlamentares do Partido Democrata como se tivessem uma posição mais progressista e combativa que a agremiação de Hillary Clinton. Por exemplo, reivindicando posições mais firmes sobre direito ao aborto ou casamento homoafetivo. O objetivo era duplo: extrair declarações que pudessem ser usadas de público e/ou criar um clima de insatisfação e irritação na própria base democrata, estimulando-a a enxergar suas referências como “frouxas”.

3. Após certo acúmulo na etapa anterior, começar uma série de ataques e agressões, sempre com um tom radicalizado, que viessem a acossar os líderes democratas, provocando o máximo de cizânia e conflito interno, com a meta adicional de afastar do processo eleitoral os seguidores de Bernie Sanders, da esquerda democrata e derrotado por Hillary nas prévias. 

Essa metodologia, que teve importante papel na vitória de Trump, passou a ser exportada para outros países pelos formuladores da direita. 

O motivo é claro: os petistas, por exemplo, dariam mais ouvidos a operadores do PSDB ou a quem se apresentasse como vozes de esquerda, fazendo um trabalho de sapa por trás das fileiras amigas? 

Alias, não foi essa a função do Cabo Anselmo, nos idos anteriores ao golpe de 1964? Com um discurso radical e caloroso, ganhou a adesão de inúmeros marinheiros dispostos à luta, mas os empurrava a provocações que desgastavam a esquerda e o governo João Goulart, facilitando o clima para o golpe militar. Somente depois descobriu-se que se tratava de um infiltrado a sérvio da CIA e dos serviços de inteligência das Forças Armadas. 

Fiquemos atentos, então. Esse mesmo tipo de intervenção há tempos está em curso nas redes sociais, de forma planejada e financiada, buscando enfraquecer o campo de esquerda e abrir alas para sua derrota nas batalhas que se avizinham.


Breno Altman é Jornalista e editor do site Opera Mundi.

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