Basta! Por Ion de Andrade

Publicado originalmente no Jornal GGN.


A privatização da Eletrobrás, da Casa da Moeda e a extinção de Reserva na Amazônia grande como a Dinamarca, premeditada com mineradoras estrangeiras, materializam agressão à Soberania Nacional nunca experimentada pelo país desde Dom João VI. Tais medidas estão sendo tomadas por um governo não somente ilegítimo como rejeitado por mais de 95% dos brasileiros, governo esse que precedendo a isso congelou os gastos sociais por 20 anos, fez aprovar uma Reforma Trabalhista e uma terceirização da mão de obra que arruinam os trabalhadores, além de inúmeras outras medidas que nenhum governo democrático consentiria permitir.

Esses fatos não podem mais passar em brancas nuvens e devem ser susceptíveis de produzir novas formas de luta capazes de exprimir a sua rejeição pela nação.

Descrentes da sensibilidade das instituições esses 95% dos brasileiros hoje contrários ao governo Michel Temer deixaram de sair as ruas, não por passividade como querem alguns, pois a indignação está em toda parte, mas por estarem em compasso de espera para exprimir o seu descontentamento a qualquer tempo, talvez por fato de significância menor.

Seja como for, a nação não pode mais parecer inerte. Novas formas de luta devem ser materializadas para que essa justa indignação seja expressa, e se converta numa invencível vontade coletiva.

Às vésperas da independência de 1822 havia forte indignação no Brasil com a pressão das Cortes de Lisboa que queriam converter o país novamente numa colônia de Portugal, fato já inaceitável dada a experiência de soberania vivida pelo país com a Abertura dos Portos de 1808.

A pressão das Cortes produziu a criação aqui de uma certa Assembleia Brasílica, que assegurou unidade territorial e política do país contra as investidas de Lisboa.

A Assembleia Brasílica assumiu diante de um Poder antinacional a expressão de uma coesão e foi vetor de uma vontade independentista.

Nos dias de hoje, se existisse a Assembleia Brasílica, estaria chamada, ainda que simbolicamente, a anular a PEC 55, a terceirização, a Reforma Trabalhista, a privatização da Eletrobrás, da Casa da Moeda e dos demais ativos nacionais, e anularia a extinção dessa reserva na Amazônia grande como a Dinamarca.

Basta!

Estudemos a criação de uma Assembleia Nacional suprapartidária simbólica com grandes nomes da ciência, da cultura, de militares, de juristas dos Movimentos Sociais, da Igreja, das religiões africanas e de todos os segmentos que possam representar a histórica nacionalidade brasileira.  Consultemos os segmentos para termos nomes representativos e os aclamemos nacionalmente com milhões de aprovações. Essa Assembleia terá o papel de exprimir o que faríamos e de representar simbolicamente a nação humilhada e vilipendiada. Não terá papel legislativo obviamente, mas assegurado o direito de associação, deverá exprimir politicamente os novos consensos hoje majoritários.

Crie-se uma Comissão Provisória para definir os nomes. Sugiro sediar a nova Assembleia Nacional simbólica na CNBB ou em Aparecida.

Vamos desfazer simbolicamente e desde já os malfeitos, mesmo sabendo que deverão passar por um referendum revogatório e pelo reconhecimento de um novo Congresso Nacional legítimo a ser eleito. Vamos avisar aos países que querem se aproveitar das nossas misérias de que a nação diz NÃO e que não respeitaremos os contratos firmados em tempos de arbítrio, vamos articular nossas relações internacionais em toda parte e inviabilizar localmente em cada país a rapina premeditada a ser perpetrada pelas mineradoras estrangeiras em solo pátrio destruindo a natureza e a nacionalidade por dinheiro.

Vamos organizar nessas amplas bases suprapartidárias as manifestações contra o regime antinacional.

Basta! Viva o Brasil!


Ion de Andrade é Médico e professor universitário. É colaborador de uma instituição social ligada à igreja católica num bairro popular de Natal. Está concentrado no estudo dos avanços sociais e da emancipação das periferias como fatores da ampliação da democracia política. É autor do livro “A Hipótese da Revolução Progressiva” que propõe um novo modelo de transição ao socialismo.

Nenhum comentário: