Debater programas, superar a polarização, por Tatiana Roque

Publicado originalmente no Outras Palavras.


Precisamos retomar um debate programático, para além a polarização. Um primeiro passo é pensar as transformações do mundo do trabalho. Em tempos de automação e robotização, as mudanças são irreversíveis, como vemos pela força do discurso sobre o empreendedorismo e pelas estratégias designadas como “uberização”. Nossa dificuldade para iniciar uma discussão profunda sobre o tema impede que sejamos propositivos, deixando todo o campo progressista numa posição puramente defensiva, que chega a ser conservadora.

Vamos apenas defender que tudo fique como estava?

Um bom exemplo são as reformas trabalhista e da previdência. Obviamente, Temer e este Congresso não possuem legitimidade alguma para fazer reformas nos direitos sociais; estão propondo medidas para atender às demandas dos empresários e do mercado, que precisam ser combatidas. Mas não queremos nenhuma reforma? Precisamos ser capazes de uma contra-ofensiva: propor alternativas às reformas que estão na mesa. As candidaturas francesas apresentaram projetos interessantes – como a redução da jornada, a taxação dos robôs ou a renda universal, todas relacionadas a reflexões sobre a natureza do trabalho no mundo contemporâneo. A meu ver, seria necessário partir daí.


Tatiana Roque é Professora da Pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, presidente do sindicato dos docentes dessa mesma universidade.

2 comentários:

  1. Concordo com a irreversibilidade das mudanças em curso provocadas pela informatização, automação e robotização. Devem ser implantadas progressivamente nos próximos 50-100 anos, primeiro nos países desenvolvidos e depois de forma mais lente nos países menos avançados econômica e tecnologicamente. Concordo também que a esquerda "progressista" deveria entender esta realidade e propor alternativas. No entanto, o que considero fundamental a curto prazo é a restruturação dos trabalhos de organização de base que foram desmobilizados nos últimos 15 anos. Minha percepção é que este é o grande desafio atual. Olga Ferraz

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  2. Não estou convencida de que a melhor forma de resistência aos golpistas e a suas reformas, que protegem o capital e retiram os direitos dos trabalhadores, são manifestações em série.

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