Adeus ao Trabalho, por Waldeck Carneiro


Em 1995, Ricardo Antunes publicou “Adeus ao Trabalho”, obra de referência na área de sociologia do trabalho, em que o autor discute a centralidade da categoria “trabalho” na práxis humana. Ora, hoje é indispensável retomar essa leitura, dada a violência do golpe que o governo ilegítimo e impopular de Temer tenta desfechar contra a classe trabalhadora. Com efeito, o avassalador processo de desconstrução de direitos trabalhistas perpetrado pelo usurpador Temer, se não for contido, representará, não apenas drástica redução das condições objetivas de trabalho e de vida de homens e mulheres, mas também abalará a própria compreensão do trabalho como atividade humana criadora, edificante e emancipatória. Afinal, se prevalecer a reforma trabalhista de Temer, será impossível para trabalhadores assim tão aviltados, face à absoluta desproteção que ela engendra e à perversa exploração a que os submete, reconhecer o caráter estratégico do trabalho na diversidade de suas práticas cotidianas. Em vez disso, tenderão a perceber o trabalho como pesado fardo a ser suportado, aprofundando-se o caráter alienante da atividade laboral.

Importa salientar que a reforma trabalhista, cujo texto já foi aprovado na Câmara dos Deputados e agora aguarda a apreciação do Senado Federal, é parte da fatura cobrada pelo grande capital por seu apoio ao golpe de Estado de 2016, assim como a entrega das nossas principais reservas de pré-sal às petrolíferas internacionais, o congelamento de investimentos em políticas sociais por vinte anos (preservados, é claro, os recursos destinados ao capital financeiro para pagamento de juros e serviços da dívida) e a proposta de reforma da previdência, vale dizer, de negação do direito à aposentadoria para grande parte da população trabalhadora.

Primado do negociado sobre o legislado, terceirização indiscriminada, perspectiva de ampliação abusiva da jornada sem aumento salarial, apequenamento do papel da Justiça do Trabalho e constrangimento às representações sindicais, aspectos que estruturam a reforma trabalhista do governo golpista, intensificarão a rotatividade da mão de obra e a lógica do trabalho temporário. Nesse cenário, o mundo do trabalho será um campo social onde os trabalhadores estarão cada vez mais desprotegidos, precarizados e explorados.

A sociedade civil organizada precisa reagir diante desta triste página da vida brasileira, que não se explica apenas pelas meras disputas partidárias, mas, sobretudo, pelo aprofundamento da luta de classes, neste contexto de grande ofensiva do capital contra a classe trabalhadora. Afinal, face à profunda depressão vivida pelo modo de produção capitalista, cujo epicentro foi a chamada “crise das hipotecas” nos Estados Unidos, no final dos anos 2000, bem retratada no filme “A Grande Aposta”, o capitalismo busca, como sempre ocorre nas crises cíclicas que enfrenta, redefinir seus padrões de acumulação, o que invariavelmente significa avançar contra políticas sociais de caráter igualitarista e direitos conquistados pela classe trabalhadora.


Waldeck Carneiro é Professor da Faculdade de Educação e do Programa de PG em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Está Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT-RJ).

Nenhum comentário: