A direita piscou, por Gilberto Maringoni

Aparentemente há um desentendimento tático nas hostes da direita brasileira, às vésperas do depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro.

As revistas semanais, no último final de semana, tentaram montar uma narrativa de embate apocalíptico. Seria o confronto entre dois antagonistas de igual quilate, na mãe de todas as batalhas, algo como Superhomem X Lex Luhor, Batman X Coringa ou Nacional Kid contra os Incas Venusianos. O Eliot Ness das araucárias enfrentaria... enfrentaria o que, mesmo? A corrupção? O lulopetismo? Os 40% de intenção de voto que o ex-presidente tem nas pesquisas? A pessoa física do sr. Silva? Tudo junto?

A falta de foco sobre o que está do outro lado é um problema. Não é fácil definir a direção do ataque.

Grupelhos fascistas espalharam outdoors pela capital paranaense, na semana passada, para montar um clima de provocação e confronto. Diante do que poderia ser uma batalha campal, o inacreditável magistrado da antiga Quinta Comarca foi às redes conversar com "os apoiadores" da Lava Jato. Sim, Moro dirigiu-se aos correligionários de uma operação jurídico-policial, como se orientasse os jogadores de seu time.

Instou-os a não ir à capital paranaense, pois a Justiça faria apenas uma operação técnica, a de tomar o depoimento de um suspeito. Com isso, Moro desmontou as orientações dadas por "Veja" e "Época". Disse que a tática não seria mais a divulgada no final de semana.

Por que fez isso? Por súbita consciência republicana? Ou por perceber que um dos subprodutos da greve geral - e do fracasso das manifestações anticorrupção de 26 de abril - é o fato de a direita estar perdendo as ruas. O desemprego e a compreensão geral do significado da reforma da Previdência se traduzem num descrédito geral enfrentado pelo governo Temer e por suas iniciativas. Pouquíssima gente parece disposta a dar a cara a tapa na defesa de uma administração que mostra suas garras também para a classe média, segmento social que vertebrou os atos pró-impeachment de 2015-16.

Ou seja, Moro desconvocou quem já havia se autodesconvocado.

O que significa agora a proibição para que apoiadores de Lula transmitam ao vivo o depoimento de quarta-feira? Significa tentar garantir que eventuais manipulações por parte da Justiça paranaense e da mídia não possam ser contestadas.

Na verdade, Moro busca retirar o embate das ruas para o terreno que lhe é mais favorável, o das edições dos telejornais.

É uma manobra. Mas é também um recuo, numa hora em que a reação perde terreno no espaço público - as ruas - e tenta reorganizar seus próximos movimentos em espaços privados, nos quais detém amplo controle.

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