A direita piscou, por Gilberto Maringoni

As revistas semanais, no último final de semana, tentaram montar uma narrativa de embate apocalíptico. Seria o confronto entre dois antagonistas de igual quilate, na mãe de todas as batalhas, algo como Superhomem X Lex Luhor, Batman X Coringa ou Nacional Kid contra os Incas Venusianos. O Eliot Ness das araucárias enfrentaria... enfrentaria o que, mesmo? A corrupção? O lulopetismo? Os 40% de intenção de voto que o ex-presidente tem nas pesquisas? A pessoa física do sr. Silva? Tudo junto?
A falta de foco sobre o que está do outro lado é um problema. Não é fácil definir a direção do ataque.
Grupelhos fascistas espalharam outdoors pela capital paranaense, na semana passada, para montar um clima de provocação e confronto. Diante do que poderia ser uma batalha campal, o inacreditável magistrado da antiga Quinta Comarca foi às redes conversar com "os apoiadores" da Lava Jato. Sim, Moro dirigiu-se aos correligionários de uma operação jurídico-policial, como se orientasse os jogadores de seu time.
Instou-os a não ir à capital paranaense, pois a Justiça faria apenas uma operação técnica, a de tomar o depoimento de um suspeito. Com isso, Moro desmontou as orientações dadas por "Veja" e "Época". Disse que a tática não seria mais a divulgada no final de semana.
Por que fez isso? Por súbita consciência republicana? Ou por perceber que um dos subprodutos da greve geral - e do fracasso das manifestações anticorrupção de 26 de abril - é o fato de a direita estar perdendo as ruas. O desemprego e a compreensão geral do significado da reforma da Previdência se traduzem num descrédito geral enfrentado pelo governo Temer e por suas iniciativas. Pouquíssima gente parece disposta a dar a cara a tapa na defesa de uma administração que mostra suas garras também para a classe média, segmento social que vertebrou os atos pró-impeachment de 2015-16.
Ou seja, Moro desconvocou quem já havia se autodesconvocado.
O que significa agora a proibição para que apoiadores de Lula transmitam ao vivo o depoimento de quarta-feira? Significa tentar garantir que eventuais manipulações por parte da Justiça paranaense e da mídia não possam ser contestadas.
Na verdade, Moro busca retirar o embate das ruas para o terreno que lhe é mais favorável, o das edições dos telejornais.
É uma manobra. Mas é também um recuo, numa hora em que a reação perde terreno no espaço público - as ruas - e tenta reorganizar seus próximos movimentos em espaços privados, nos quais detém amplo controle.
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