Depois do arranjo no Senado uma disputa emocionante na Câmara, por José Carlos de Assis


As coisas no Senado se arranjaram de acordo com o poder absoluto que o esquema do Planalto, manipulando verbas e cargos, exerceu para a renovação da mesa. Não foi uma derrota absoluta do grupo contestador da presidência de Renan Calheiros. Conseguiu-se ao menos um compromisso de Eunicio de Oliveira, em discurso formal de candidato, de assegurar espaço para as minorias, não apenas na forma de cargos na mesa, mas sobretudo no processo legislativo. Agora, na disputa da mesa da Câmara, o jogo promete ser mais emocionante.

A esquerda está sendo suficientemente inteligente para não se fechar em copas no plano ideológico. Busca, pragmaticamente, ampliar seu espaço de influência para incluir também forças progressistas de outras legendas. Teve muita sorte. Encontrou no PDT, na pessoa de um jovem candidato nacionalista, uma liderança com grande possibilidade de tirar a Câmara da posição subalterna que tem tido em relação ao Executivo. André Figueiredo pode representar uma mudança de paradigma no processo legislativo brasileiro.

Na situação de entreguismo desvairado em que nos encontramos, com o Governo tentando premiar as empresas de telecomunicações com mais de R$ 100 bilhões na calada de um fim de ano e entregar gratuitamente o controle da Vale do Rio Doce ao Bradesco, uma corporação financeira, e à Mitsui, uma trading estrangeira, é um começo de segurança a perspectiva de termos na presidência a Câmara um prócer do partido de Leonel Brizola, com apoio possível de nacionalistas também do PMDB, como Leonardo Quintão.

Diz-se que também a eleição da Câmara, como a do Senado, é decidida nos bastidores pela atribuição de verbas e cargos. Talvez isso seja verdade para boa parte do Senado, cuja maioria são apenas 41 parlamentares. Contudo, na Câmara, o jogo é diferente. Não há como atender com bons cargos e boas verbas toda a maioria de quase 400 durante todo o tempo. Alguém fica insatisfeito hoje ou amanhã. O cobertor é curto, mesmo se levando em conta o enorme poder distributivo que o Governo tem. Se não fosse assim jamais existiria dissidência.  

A insatisfação dos deputados do PMDB com o Governo é notória. O partido está simplesmente estraçalhado em relação a ele. Alguns se movem por motivos fisiológicos, mas há aqueles que acham que é um suicídio político subordinar-se a um Governo que entra em processo aberto de falência. Isso abre espaço para um candidato com credibilidade trazer o jogo para o seu próprio campo. É essa perspectiva que está aberta para o deputado André Figueiredo na sua candidatura a Presidente da Câmara. O jogo está feito.  

Um importante crédito de Figueiredo, nessa época em que os cargos legislativos passam pelo crivo ou pela sanção da Lava Jato, é que ele nada deve em matéria de suspeita de corrupção. Não é tão vulnerável, por exemplo, como o senador Eunice, apontado na relação de suspeitos da Odebrecht. Com isso, na eventualidade de uma queda de Temer a curto prazo, teremos o presidente da Câmara assumindo os poderes constitucionais plenos de conduzir a eleição indireta do futuro Presidente da República para até o fim do atual mandato.

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